A cultura do milho é uma das mais importantes do mundo e este destaque se traduz no setor agrícola brasileiro. Graças aos investimentos na produção do grão no país, em 2023, o Brasil se tornou o maior exportador do mundo
Espiga de milho aberta em plantação.
Segundo o levantamento da Statisa, a produção nacional é de 115 milhões de toneladas. E a projeção da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) prevê o aumento de 11,2% na safra 2022/23 – atingindo a marca de 125,8 milhões de toneladas.
Além disso, a importância do milho para o agronegócio brasileiro se torna cada vez maior. Segundo o Instituto Mato Grossense de Agropecuária (IMEA), a produção do grão superou a de soja na safra 2021/22 – e a estimativa é de outro ciclo com produtividade superior à da principal commodity do Brasil.
Para completar, o estudo da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) aponta que a produção de alimentos precisará crescer 61% até 2050 para atender a demanda global. E o Brasil tem papel estratégico, com participação de 41% deste total – consolidando sua posição entre os maiores produtores e exportadores de milho do mundo.
Assim, além de favorecer a balança comercial brasileira, os produtores de milho podem aproveitar esse aumento de demanda para otimizar seus resultados e melhorar sua renda e qualidade de vida.
Porém, para obter esses benefícios, o produtor precisa entender quais são as tendências globais e nacionais relacionadas à produção de milho e aprender a otimizar a lavoura.
Por esse motivo, neste guia, você entenderá tudo sobre a produção de milho no Brasil e no mundo. Para isso, você conhecerá desde sua história de cultivo, relevância no mercado brasileiro, orientações de manejo – e, é claro, tecnologias e tendências para otimizar a lavoura.
Boa leitura!
1. Histórico do cultivo de milho
A origem do milho
Considerado um dos cereais mais importantes do mundo, o milho tem origem milenar. Embora existam divergências entre pesquisadores sobre a data exata do início desta cultura, existem registros de que a commodity já era cultivada em 5.000 A.C.
Tais evidências foram encontradas no golfo do México, o maior do mundo. Na época, o cereal era usado como base das populações das civilizações do litoral mexicano. Povos pré-colombianos como os Astecas e Maias e até os Índios Guaranis Brasileiros utilizavam diferentes variedades do milho como base da sua alimentação.
Com a chegada da era das Grandes Navegações, no século XV, o milho chegou às outras partes do mundo. Neste período, colonizadores e comerciantes descobriram o sabor e valores nutricionais do cereal e decidiram difundir a descoberta para os outros países.
Este processo de descoberta e disseminação da cultura pelos europeus não ocorreu do dia para a noite. Isso, inclusive, acarretou mudanças – afinal, o milho utilizado pelas populações tradicionais era bem diferente do que conhecemos hoje.
Foi necessário um processo de domesticação e seleção natural para modificar aspectos morfológicos e reprodutivos da planta, transformando-a no milho cultivado e comercializado atualmente.
Apesar do longo processo, que ocorreu ao longo dos últimos 500 anos, ele gerou resultados extraordinários. Afinal, hoje o milho é uma das principais culturas produzidas do mundo. Junto com a soja, o arroz, o trigo e a cana-de-açúcar, o milho forma a base da alimentação humana e animal.
Além disso, seu cultivo continua sendo essencial para o combate à fome, a manutenção da qualidade e expectativa de vida, bem como a economia de diversos países produtores.
Grãos de milho.
Histórico da produção de milho no Brasil
A história de consumo e cultivo de milho no Brasil se confunde com a do próprio país. Afinal, as tribos indígenas locais já utilizavam o milho na sua alimentação. Quando a tripulação de Pedro Álvares Cabral chegou ao Monte Pascoal, no dia 22 de abril de 1500, o cereal e seus alimentos derivados foi um dos fatores que chamou a atenção dos navegantes.
Além dos portugueses, outros povos colonizadores ajudaram a disseminar o cultivo e consumo do milho ao redor do mundo. No entanto, centenas de anos foram necessários até o cereal ocupar um lugar de relevância no cenário agrícola brasileiro.
Isso aconteceu devido a dificuldades com o processo de domesticação da cultura do milho, a limitações agrícolas e de recursos, práticas e tecnologias aplicáveis à produção no campo.
No Brasil, esta realidade começou a mudar com a Revolução Verde, ocorrida na década de 1970. Este marco na consolidação do perfil do agro nacional trouxe inovações tecnológicas para melhorar a produção agrícola.
Estes avanços se aliaram aos investimentos do Ministério da Agricultura em pesquisas, que aumentaram a produtividade da agricultura no nacional. Desta forma, foi possível acelerar a expansão do cultivo de milho em território nacional.
Essa expansão também foi favorecida graças a uma série de iniciativas, como o PRODECER (Programa de Cooperação Nipo - Brasileiro para o Desenvolvimento dos Cerrados), idealizado na década de 1970. Ele incentivou o desenvolvimento tecnológico voltado à produção de grãos, principalmente milho, soja e trigo, em estados como Minas Gerais, Mato Grosso e Bahia.
Atualmente, a expansão das áreas de cultivo de milho segue a mesma tendência observada na cultura da soja. Desde 2010, os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, região do MATOPIBA, , se destaca no plantio do cereal.
Para 2023, a estimativa é de um aumento de 20% na produção de milho local – alcançando 18 milhões de toneladas no ano. Já as demais regiões produtoras devem observar um aumento médio de apenas 5%.
Este dado reforça o potencial de expansão da produção agrícola além do eixo sul-sudeste. Mostrando a força do agro brasileiro, esta conjuntura é resultado do investimento em ciência e tecnologia no campo – e tudo indica que os aportes continuarão.
Leia Também: Aprenda o que é janela de plantio, como funciona e qual é o momento ideal para cultivar cada cultura
2. Panorama do milho no mercado global e no agronegócio brasileiro
Considerado a cultura mais produzida no mundo, o milho representa cerca de 36% da produção agrícola mundial. Para se ter uma ideia, em 2022, a produção global do cereal foi de 1,2 bilhão de toneladas.
Parte desse resultado foi alcançado graças ao trabalho dos produtores brasileiros. Juntos, Estados Unidos, China e Brasil são responsáveis pela produção de 73% da produção global de milho.
Isso é possível porque os três países investem na incorporação de diferentes tecnologias, como o plantio de sementes híbridas e tecnologias agronômicas, capazes de elevar a produção em até 60% em comparação a outros cultivares.
Por conta desse tipo de investimento, o milho é uma cultura amplamente cultivada tanto em regiões tropicais quanto temperadas, contribuindo para a sua produção elevada.
Colheita de milho.
Os maiores produtores de milho do mundo
Hoje, os Estados Unidos são o maior produtor global de milho, responsáveis por 380 milhões de toneladas anuais. Em seguida está a China, com produção de 270 milhões de toneladas todos os anos.
Como mencionado anteriormente, o Brasil está em terceiro lugar do ranking global, produzindo 115 milhões de toneladas de milho para consumo interno e externo.
Outros produtores de milho importantes estão na Europa, com 69 milhões de toneladas por ano – com destaque para Holanda, Espanha, França, Alemanha e Reino Unido.
Completam a lista de principais fornecedores de milho Argentina, Ucrânia, Índia e México – com 54 milhões, 42 milhões, 30 milhões e 27 milhões respectivamente.
Os maiores consumidores de milho do mundo
Na outra ponta da cadeia produtiva, os dois maiores produtores também são os maiores mercados consumidores de milho. Os Estados Unidos e a China são o destino de 318,7 milhões e 240 milhões de toneladas – o que corresponde a, respectivamente, 29,9% e 22,5% do consumo global de milho.
Em seguida está a Europa, com destaque à Holanda, Espanha, França, Alemanha e Reino Unido. São 74,8 milhões de toneladas – 7% do mercado. Já o Brasil é o quarto maior consumidor de milho, com 61,5 milhões de toneladas e 5,8% do consumo global.
O berço do cereal, o México é o quinto principal consumidor de milho do mundo. São 42,3 milhões de toneladas consumidas por ano, o tornando destino de 4% da produção global.
A Índia e o Egito são o sexto e sétimo principais consumidores de milho do mundo, respectivamente – enquanto o primeiro é destino de 25,8 milhões de toneladas e corresponde a 2,4% do mercado, o segundo consome 15,9 milhões de toneladas anuais e detêm uma fatia de 1,5%.
Japão, Canadá e Vietnã completam o ranking de maiores mercados consumidores de milho. Com 15,1 milhões, 14 milhões e 13,4 milhões de toneladas consumidas, os países são responsáveis, respectivamente, por fatias de 1,4%, 1,3% e 1,3% do consumo global.
Milho: uma cultura cada vez mais produtiva
As estatísticas indicam que a produção de milho tem aumentado cerca de 15 milhões de toneladas por ano. Além disso, graças à incorporação de inovações e tecnologias, a produtividade desse cereal não exigiu expansões significativas das áreas cultivadas.
Na década de 1990, por exemplo, a área cultivada de milho no mundo era de cerca de 131 milhões de hectares – responsável pela produção de quase 483 milhões de toneladas do grão.
Hoje em dia, estima-se que o milho seja cultivado em quase 192 milhões de hectares de terra. Porém, a produção global mais que dobrou nos últimos 30 anos, atingindo mais de 1,1 bilhão de toneladas.
No Brasil, a evolução do cultivo de milho também mostra resultados impressionantes. Nas últimas quatro décadas, a produtividade saltou de 1,6 tonelada por hectare para cerca de 5 toneladas por hectare.
Além disso, nos últimos 10 anos, a produção brasileira praticamente dobrou. Na safra 2010/11, o país produzia cerca de 57,4 milhões de toneladas de milho. Já na safra 2022/23, a Conab prevê uma produção total de 125,8 milhões de toneladas.
Estes números refletem o investimento em tecnologias no campo, a eficiência nos cultivares graças a melhorias genéticas. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), referência no país, disponibiliza mais de 190 variações de sementes. Assim, produtores de todo o país podem plantar a mais adaptada às condições climáticas e fitossanitárias da região da fazenda.
Colheita de milho.
Os diferentes usos do milho
Cerca de 70% da safra do milho é destinada à produção de ração para animais. O restante é utilizado, principalmente, para produção de alimentos, como fubá, canjica, pipoca, entre outros produtos utilizados na culinária.
Apenas uma pequena parte dessa produção é destinada a produção de biocombustível e produtos derivados direta ou indiretamente do milho, como colas, adesivos, glucose, amido e até medicamentos.
Geralmente, as indústrias responsáveis pela produção de alimentos e ração utilizam o grão seco de milho, ou seja, que já atingiu a maturidade fisiológica.
Esses grãos podem passar por um processo de moagem seca, que transforma o milho em farinha, farelo, extrusado e óleo refinado. Eles também podem ser submetidos ao processo de moagem úmida para a obtenção de produtos como amido, xarope de glucose, fibra, dextrinas e glúten.
Caso seja colhido ainda imaturo, ele passa a ser chamado de milho verde. Assim, pode ser consumido na forma de espiga cozida ou utilizado para o preparo de pratos como a pamonha e o curau.
Por isso, a finalidade do uso do milho deve ser definida antes do plantio – já que existem cultivares indicados para a fabricação de cada tipo de produto. Por exemplo, o milho cultivado para a fabricação de farelo para ração não é o mesmo destinado a produção de canjica.
Além do cultivar escolhido para o plantio, fatores como temperatura, pluviosidade, incidência solar e infestação por pragas e sementes também alteram a fisiologia, a produtividade e a qualidade do milho.
Esses fatores reforçam a importância do trabalho do produtor, o qual precisa definir estratégias de cultivo baseadas em diferentes dados para atender assertivamente as demandas do mercado consumidor.
Destino da produção do milho brasileiro
Historicamente, a produção de milho brasileiro era destinada ao mercado interno. Somente a partir da safra 2011/12, esse cenário começou a mudar em função do excedente produzido naquele período.
Desde então, a produção brasileira de milho cresce a cada ano, transformando o país em um dos maiores produtores de milho da atualidade e no segundo maior exportador de milho do planeta.
Segundo dados da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), em 2020, o Brasil exportou milho para cerca de 90 países. Entre eles, os maiores compradores foram o Japão, Irã, Vietnã, Coreia do Sul e Egito.
Além de contar com um vasto número de clientes, o país também registra ganhos econômicos impressionantes em função da exportação do cereal. Segundo dados da Fazcomex, em 2021, as negociações envolvendo a exportação de milho ultrapassaram US$ 454 milhões. Já a CNA afirma que o Valor Bruto de Produção (VBP) do milho em 2021 foi de R$ 129,4 bilhões, considerado o terceiro maior VPB do país nesse período.
Esses valores podem aumentar ainda mais nos próximos anos. De acordo com dados da Conab, apenas entre janeiro e setembro de 2022, o país exportou cerca de 24,66 milhões de toneladas do cereal.
Isso equivale ao aumento de 92,3% em comparação ao mesmo período de 2021, quando as vendas externas do grão atingiram cerca de 12,82 milhões de toneladas.
Esses números reforçam que, apesar dos desafios relacionados à exportação do grão e ao atendimento do mercado interno, o milho continua sendo uma das commodities mais relevantes da economia brasileira.
3. Aspectos botânicos e ecofisiológicos do milho
O milho, também conhecido pelo nome científico Zea mays, é uma espécie pertencente à família Poaceae – que agrupa plantas conhecidas como gramíneas.
Trata-se de uma espécie de cultivo anual, classificada como uma planta C4, que agrupa espécies capazes de se adaptar a diferentes condições ambientais – incluindo locais quentes e secos.
O milho também é conhecido como uma das plantas mais eficientes em relação à capacidade de armazenamento de energia, devido à sua capacidade de acumular fotoassimilados, especialmente carboidratos.
Assim, uma semente com cerca de 0,3 g é capaz de gerar uma planta que pode alcançar até 2,0 m de altura e produzir até 1000 sementes. Isso ocorre num período relativamente curto, por volta de nove semanas.
Graças a tais características, o milho é uma cultura que pode ser cultivada em diferentes condições ambientais, o que facilitou a expansão do seu cultivo em diversas partes do mundo.
Evolução do milho.
Principais características do milho
As características morfológicas e anatômicas do milho também tornam essa planta bastante peculiar. Além de ser uma planta ereta, geralmente com apenas um colmo principal, é cespitosa – ou seja, nascem vários brotos. Possui estival, baixo afilhamento, raízes fasciculadas e adventícias.
Além disso, as espiguetas se desenvolvem aos pares e são distribuídas em espiral, sendo que cada espigueta conta com duas inflorescências. Por ser uma planta monoica, ou seja, que desenvolve órgãos sexuais femininos e masculinos no mesmo indivíduo, o milho pode apresentar inflorescências com flores masculinas e femininas.
As flores masculinas se desenvolvem na forma de pendão, responsável pela produção de pólen. Já as flores femininas crescem junto com as espigas, formando aquele “cabelo” que envolve os grãos. Por conta disso, ela é capaz de se autopolinizar, facilitando sua reprodução e o desenvolvimento de novos frutos, que são os grãos de milho.
Ciclo de vida do milho
O ciclo de vida do milho, também chamado de ciclo fenológico, explica como ocorre o desenvolvimento da planta ao longo do tempo. Esse ciclo é dividido em dois estádios: vegetativo e reprodutivo.
O estádio vegetativo se refere ao período entre a emergência da plântula, o desenvolvimento das folhas e o do pendão.
Essa fase começa com a emergência da plântula (VE), seguida por outras subdivisões conhecidas como V1, V2, V3, ….,V(n). Nelas, os números se referem à quantidade de folhas desenvolvidas.
Já o estádio reprodutivo inicia quando a planta atinge sua altura máxima e começa o processo de embonecamento – ou seja, a polinização. É nesse período que ocorre o processo de fecundação das flores e a formação de grãos.
Para facilitar o entendimento desse estádio, ele também é dividido em subfases – que se iniciam na fase R1, de embonecamento, e se encerram na R6, de maturidade fisiológica.
Ao todo, o ciclo de vida do milho pode ser concluído entre 4 e 6 meses após o plantio. Geralmente as espigas ficam maduras cerca de 50 dias depois do florescimento. No entanto, o ponto ideal de colheita de milho varia de acordo com o híbrido cultivado.
Figura 1. Ciclo fenológico do milho de Ritchie et al. (1996). Fonte: Agricultura e Mar.
Formação do grão de milho
O desenvolvimento dos grãos de milho ocorre em diferentes etapas, de acordo com o avanço dos estádios reprodutivos da planta.
O primeiro estádio de formação do grão coincide com a fase R2 do ciclo de vida do milho e ocorre de 10 a 14 dias após o embonecamento do milho.
Ele é conhecido como bolha d’água (Figura 2), já que nessa fase o grão apresenta 85% de umidade.
Figura 2. Grãos no estádio R2, conhecido como bolha d`água. Fonte: Embrapa.
Já o segundo estádio coincide com a fase R3 do ciclo de vida do milho e é conhecido como leitoso (Figura 3). Ele recebe esse nome por conta da mudança na coloração do grão, resultante do acúmulo de amido e da redução da umidade.
Figura 3. Grãos no estádio R3, conhecido como “leitoso”. Fonte: Embrapa.
O próximo estádio de formação de grão ocorre na fase R4 do ciclo de vida do milho. Ele é conhecido como estádio pastoso, uma vez que os grãos atingem uma consistência pastosa e apresentam queda na umidade, que fica em torno de 70% (Figura 4).
Figura 4. Grãos no estádio R4, pastoso. Fonte: Embrapa.
A partir da fase R5, os grãos começam a desenvolver uma camada de amido mais rígida em seu exterior, que protege o interior macio. Além disso, o núcleo do grão passa por um processo de redução – formando uma estrutura semelhante a um dente. Por isso, essa fase também é conhecida como dente (Figura 5). Vale lembrar que alguns genótipos de milho do tipo duro não formam dentes.
Figura 5. Grãos na fase R5 durante a formação de dentes. Fonte: Embrapa.
No estádio R5, os grãos também começam a fazer a transição do estado pastoso para o farináceo. Em função disso, surge a chamada linha de leite (Figura 6), que é uma linha divisória de amido que separa o amido macio (interno) do grão do amido rígido (externo), avançando em direção à base da semente.
Figura 6. Detalhe do desenvolvimento da linha de leite. Fonte: Embrapa.
Durante essa fase, também ocorre um processo de rompimento das células da ponta do grão, formando uma camada preta (Figura 7).
Essa camada impede a perda de amido e protege a umidade da semente. Lembrando que o estresse ambiental nessa fase pode antecipar a formação da camada preta, que também indica a maturidade fisiológica do grão.
O estádio R6 também é a fase de maturidade fisiológica do grão. Nele, todos os grãos na espiga alcançam o máximo peso seco e vigor, a linha de leite avançou até a espiga e a camada preta já está completamente formada.
Geralmente, essa fase de maturidade é atingida cerca de 60 dias após o embonecamento, quando os grãos atingem seu peso máximo e a umidade está em torno de 35%.
Figura 7. Detalhe do desenvolvimento da camada preta, considerada um indicador de maturidade fisiológica. Fonte: Embrapa.
4. Manejo da cultura do milho
Características de cada safra de milho
A busca constante por inovação e a adoção de práticas mais eficientes de plantio são algumas das principais responsáveis pelo sucesso do plantio de milho no Brasil.
Além da modernização do campo, os produtores também têm investido na profissionalização da lavoura e na atuação em conjunto com técnicos e consultores ao longo de todo o desenvolvimento do milho.
Graças a esse cenário, o Brasil é o único país entre os grandes produtores capaz de produzir até três safras de milho por ano. Em função disso, o aumento do volume de safra coloca o país entre os principais produtores do mundo.
Conheça as características e diferenças entre essas três safras:
Primeira safra de milho
Também conhecida como safra de verão, a primeira safra de milho é uma das mais importantes para o produtor. Afinal, geralmente os agricultores investem no cultivo de uma área maior, aumentando o volume de produção.
Na maioria dos estados, ela é plantada entre setembro e dezembro, enquanto a colheita ocorre entre os meses de fevereiro e junho. No entanto, essas datas podem variar bastante, especialmente entre regiões produtoras do Nordeste – uma vez que cada estado adota seu próprio calendário de cultivo.
Segunda safra de milho ou milho safrinha
A segunda safra de milho, também conhecida como milho safrinha, se refere ao milho de sequeiro cultivado extemporaneamente. Nas regiões centro-oeste e sudeste, os produtores geralmente iniciam o cultivo do milho de segunda safra entre janeiro e março. Os demais produtores do país contam com uma janela de plantio maior, que varia entre janeiro e julho.
Apesar do cultivo do milho safrinha envolver mais riscos e incertezas em função das condições climáticas comuns ao seu período de plantio, este cenário não prejudica a produtividade.
Isso se deve ao fato de os agricultores incorporarem inovações no campo, tecnologias de ponta e práticas agrícolas eficientes que aumentaram significativamente a produtividade do milho safrinha. Em função disso, hoje a produção da segunda safra impressiona e reforça o potencial desse tipo de cultivo.
Terceira safra de milho
Já a terceira safra de milho, conhecida como safra de inverno, também é resultado da incorporação da tecnologia no campo. Em função desse investimento, hoje os produtores podem iniciar o plantio de uma nova safra do grão entre os meses de abril e junho.
Atualmente, essa safra é cultivada principalmente pelos produtores dos estados da Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco e Roraima. Segundo especialistas, a tendência é que sua área cultivada seja expandida nos próximos anos.
Embora seu volume de produção ainda não seja tão significativo quanto os da primeira e segunda safras, o cultivo da safra de inverno tem sido monitorado pela Conab desde 2019.
Por isso, a companhia já categoriza os dados da sua produção nacional, mostrando a relevância na terceira safra no volume de grãos produzidos atualmente.
Veja também: Tudo sobre a safra de milho no Brasil em 2023
Milharal germinando.
Como otimizar o plantio de milho?
Existem diversas estratégias que, se usadas da maneira certa, podem tornar o plantio de milho mais eficiente e potencializar a produtividade da lavoura.
Entre essas estratégias, se destacam cuidados e tecnologias específicas que devem ser adotadas pelo produtor que deseja otimizar sua produção. As principais adotadas no mercado são:
- Planejamento agrícola inteligente;
- Plantio de sementes certificadas e cultivares de alto potencial genético, principalmente híbridos resistentes à resistência a lagartas e herbicida glifosato;
- Adoção do sistema de Manejo Integrado de Pragas (MIP), plantas daninhas e doenças de forma intensiva;
- Compra de maquinário moderno e investimento constante na manutenção e calibragem dessas máquinas;
- Investimento na análise de solo e na produção de mapas agrícolas, como mapas de fertilidade;
- Adoção de ferramentas da Agricultura de Precisão, como drones, sensoriamento remoto e telemetria;
- Investimento em recursos da Agricultura Digital, como softwares de gestão agrícola e ferramentas de monitoramento remoto;
- Uso inteligente e sustentável dos recursos naturais;
- Treinamento e capacitação dos operadores de máquina.
Fatores que influenciam no sucesso do plantio
Para obter um plantio eficiente e garantir o sucesso do estabelecimento da lavoura, o produtor também precisa ficar atento a alguns fatores que influenciam no desenvolvimento do milho. Conheça os principais abaixo:
Temperatura
O ideal é que o milho seja cultivado apenas quando a temperatura do solo estiver entre 25 e 30 °C. Caso ela esteja abaixo de 10 °C ou acima de 40 °C, a germinação das plântulas pode ser prejudicada.
Altitude
Segundo pesquisa da Embrapa que avaliou cultivares de milho em diferentes plantados em diferentes regiões do Brasil, a altitude possui grande influência no rendimento da cultura.
O estudo apontou que o milho cultivado em regiões com altitude superior a 700 m apresenta maior rendimento – 7.429 kg por hectare. Por outro lado, os ensaios cultivados em altitudes abaixo de 700 m apresentaram rendimento de 6.473 kg por hectare.
Ou seja: lavouras cultivadas em regiões com maior altitude apresentam melhor rendimento.
Umidade do solo
Embora seja uma planta que se adapta a diferentes ambientes, o milho é uma espécie muito dependente da disponibilidade de água.
Por isso, em caso de déficit hídrico, a planta pode apresentar redução da massa vegetativa, na produção de grãos e na quantidade de amido metabolizado.
Como resultado, o déficit hídrico prejudica o desenvolvimento do milho e a qualidade dos grãos, gerando prejuízos ao produtor. Para evitar esses problemas, o ideal é que a planta tenha um consumo de cerca de 600 mm de água ao longo do seu ciclo de vida.
Apesar disso, ela pode ser cultivada em regiões cuja precipitação seja de 250 mm até 5.000 mm anuais, desde que o produtor invista num sistema de irrigação eficiente.
Irrigação
O ideal é que o produtor faça a irrigação da lavoura pelo menos três vezes na semana. Dessa forma, ele garante que o solo permaneça úmido, o que favorece o desenvolvimento da planta.
Vale lembrar que o número e o volume de irrigação variam de acordo com a região. Desta forma, o ideal é seguir as recomendações do agrônomo.
Preparação do solo e adubação
Para garantir boas condições de desenvolvimento à planta, o ideal é que o milho seja cultivado em solo rico em matéria orgânica, com pH entre 5,5 e 6,8. Além disso, pode ser necessário investir na calagem, aplicação de gesso e adubação nitrogenada do solo.
Geralmente, o nitrogênio é o nutriente responsável por favorecer as funções metabólicas, acelerando sua germinação. Porém, antes de definir qualquer tipo de adubação, é fundamental investir na análise do solo.
Ela fornece o diagnóstico completo das propriedades físicas, químicas e biológicas do substrato. Assim, o produtor identifica com precisão quais adubos devem ser aplicados para favorecer o desenvolvimento saudável do milho.
Leia também: 7 dicas de preparo do solo para plantio do milho
Tipos de grãos de milho
O produtor também precisa ficar atento ao tipo de semente utilizada no cultivo do milho. Afinal, ele pode escolher entre diferentes variedades, sendo que cada uma delas produz grãos indicados para finalidades distintas.
Para se ter uma ideia, atualmente, existem cerca de 28 variedades de milho cultivadas no Brasil. Dentre eles, os mais cultivados são:
- Milho duro;
- Milho dentado;
- Farináceo;
- Milho-verde;
- Canjica;
- Pipoca.
Além disso, o produtor pode utilizar sementes híbridas no plantio, que podem ser simples, duplos ou triplos, obtidos a partir do cruzamento de diferentes linhagens da espécie.
Graças a isso, as sementes híbridas que garantem maior uniformidade da lavoura e oferecem mais tecnologia e produtividade.
Espaçamento e densidade
A escolha da densidade de plantio e o espaçamento entre as fileiras também influenciam na produtividade de milho. Tradicionalmente, os produtores utilizam um espaçamento de 80 cm a 90 cm entre as linhas.
Porém, com o avanço das tecnologias e técnicas de manejo, cada vez mais produtores têm adotado o chamado espaçamento reduzido. Nesse caso, o plantio é feito em fileiras com espaçamento de 45 cm a 50 cm, mesma medida utilizada no cultivo da soja.
Com relação à densidade, é necessário definir o número de plantas por hectare. Geralmente, os produtores brasileiros utilizam uma que varia de 30 mil a 90 mil plantas por hectare.
Embora seja possível aumentar esse número, o agricultor precisa tomar cuidado. Afinal, pode ser que uma densidade elevada promova a competição entre as plantas, que resultará na queda da produtividade.
Tenha atenção com o manejo fitossanitário
O manejo fitossanitário inclui ações que promovam o controle de ataques, doenças e plantas daninhas que prejudicam o desenvolvimento da cultura do milho. Por isso, é importante que o produtor conheça as principais estratégias para proteger a lavoura desses agentes.
Colheita
A colheita do milho é realizada cerca de 120 a 180 dias, de 4 a 6 meses, após o plantio da lavoura. Porém, o momento exato para iniciar a operação depende de vários fatores, como as características da variedade cultivada e as condições climáticas da região.
Para evitar erros, também é importante observar se as plantas estão no ponto da colheita. Na maioria das vezes, a operação deve ser iniciada quando o milho apresenta as seguintes características:
- Espigas secas e cabelos (estilos-estigmas) de coloração marrom;
- 50% das sementes da espiga têm uma mancha preta no ponto de inserção no sabugo, indicando a maturidade fisiológica dos grãos;
- Umidade dos grãos maior que 13%. Caso seja necessário colher com antecedência, essa umidade deve estar entre 18% e 20%.
Vale lembrar que o nível de umidade pode variar de acordo com o cultivar plantado na lavoura. No caso do milho-verde, por exemplo, o ideal é iniciar a colheita quando a umidade dos grãos estiver entre 70% e 80%.
Além disso, o produtor precisa ficar atento ao seu planejamento agrícola, garantindo que a operação seja realizada no período estipulado e que a safra seja transportada e armazenada corretamente.
Colheita do milho.
5. De olho no futuro: tendências da produção de milho no Brasil e no mundo
Segundo a (Organização das Nações Unidas (ONU), a população mundial deve atingir quase 9,8 bilhões de pessoas até 2050. Uma das consequências deste aumento populacional será a necessidade de o setor agrícola definir estratégias viáveis para acompanhar o volume da produção.
Por conta dessa previsão, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) estima que a produção agrícola precisará crescer quase 70% nas próximas décadas para atender as demandas do mercado.
Como o milho é considerado um dos cereais mais importantes para a alimentação humana e animal, a expectativa é que os países produtores definam estratégias e viabilizem recursos para aumentar a produção desse cereal. Ou seja, continuar investindo no desenvolvimento de novas soluções e na incorporação de inovações no campo.
Sol na lavoura.
Expectativas de produção até a safra 2027/28
Graças a esses investimentos, a estimativa é que a produção mundial de milho cresça ainda mais ao longo desta década. Um relatório da OECD-FAO (2019) prevê que a produção mundial de milho atinja cerca de 1,311 bilhão de toneladas na safra 2027/28.
Além disso, a estimativa é que haja mudanças na finalidade de uso dessa produção. A expectativa é que quase 60,0% desse total seja destinado à alimentação animal, 15,5% à produção de biocombustíveis e 13,4% ao consumo humano.
Ainda segundo o relatório, espera-se o Brasil aumente sua produção de milho em pelo menos 25 milhões de toneladas até safra de 2027/28.
No período, a projeção é que a China também aumente sua capacidade produtiva em 47 milhões de toneladas, enquanto a dos Estados Unidos cresça 31 milhões de toneladas. Ou sejam, os três países devem continuar sendo os maiores players do mercado na produção desse cereal.
Acompanhando o aumento da produção, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos também prevê o crescimento da exportação de milho até a safra 2027/28.
Enquanto os norte-americanos esperam suprir 29,6% do mercado, a expectativa é que o Brasil seja responsável por 23,7% das exportações de milho no mundo até 2028, comercializando cerca de 44,8 milhões de toneladas do grão.
Tecnologias que preparam a lavoura de milho para o futuro
Para aumentar a produção, melhorar a qualidade da safra e atender as demandas de um mercado cada vez mais exigentes, a digitalização das lavouras de milho é imprescindível.
Na verdade, a convergência tecnológica do setor agrícola já está em andamento. Produtores já utilizam recursos da Agricultura de Precisão e Agricultura Digital para modernizar a fazenda e otimizar seus resultados.
A tendência é que este processo se intensifique nos próximos anos para que a produção de milho permaneça alinhada às demandas do mercado.
Para isso, o produtor deve incorporar diferentes tecnologias, especialmente àquelas relacionadas à chamada Agricultura Inteligente e à Agricultura Digital, tais como:
- Smart machines ou máquinas inteligentes;
- Softwares de gestão e aplicativos para agricultura;
- Inteligência artificial (IA);
- Blockchain;
- Tecnologia 5G;
- Big Data;
- Internet das Coisas (IoT);
- Marketplaces.
Para incorporar essas inovações às fazendas, o produtor conta com o investimento privado e o apoio de políticas públicas – responsáveis por melhorar a qualidade da conectividade na área rural e resolver gargalos da infraestrutura que prejudicam a implementação dessas tecnologias.
O futuro da produção brasileira
Além da influência do aumento populacional, o setor agrícola é cada vez mais influenciado pela agenda ambiental. Afinal, mudanças climáticas já influenciam o desenvolvimento agrícola – e são debatidas por líderes globais.
Como resultado dos efeitos das mudanças climáticas, problemas ambientais e aumento populacional, questões socioeconômicas também terão influência no futuro do mercado. Diante deste cenário, o Brasil, que é um dos maiores players do mercado agrícola, deve passar por diversas mudanças no setor agrícola.
Segundo o relatório Visão 2030 da Embrapa, que reúne sinais e tendências globais e nacionais sobre essas transformações, existem pelo menos sete megatendências que moldarão o futuro da agricultura brasileira – incluindo a produção do milho:
Figura 8-A. O futuro da agricultura brasileira: principais sinais e tendências em cada megatendência. Fonte: Embrapa.
Figura 8-B. O futuro da agricultura brasileira: principais sinais e tendências em cada megatendência. Fonte: Embrapa.
Agenda ESG na produção do milho
A sigla ESG indica os termos em inglês “Environmental, Social and Governance” e pode ser traduzida como “Ambiental, Social e Governança” – os pilares que orientarão produtores para adotarem soluções e cadeias produtivas mais sustentáveis e socialmente responsáveis, sem comprometer produtividade e negociações comerciais.
A Agenda ESG é resultado dessas tendências populacionais, sociais e ambientais previstas para o futuro do planeta – que exigirão mudanças na cadeia produtiva de diversos setores.
Por isso, ela reúne um conjunto de práticas e processos adotados para tornar empresas de diferentes segmentos mais responsáveis do ponto de vista ambiental, social e econômico. Isso fica evidente quando o próprio nome da agenda é analisado.
Dessa forma, o produtor que implementa práticas ESG na sua fazenda promove a modernização do seu negócio e se torne apto para adquirir diversas certificações internacionais, facilitando o acesso a fundos de investimento e ao mercado internacional.
Mas como adotar a Agenda ESG na fazenda produtora de milho? Confira abaixo algumas práticas para implementar essa tendência na sua lavoura:
- Invista na rastreabilidade da cadeia de valor;
- Utilize os recursos da Agricultura de Precisão e Agricultura Digital na lavoura, tais como drones, sensores, softwares de gestão, telemetria, entre outras ferramentas;
- Implemente ações que reduzam as emissões de carbono;
- Monitore como o trabalho realizado na fazenda impacta a comunidade;
- Invista em estratégias de governança para melhorar a gestão da fazenda e aumentar a transparência da produção agrícola;
- Aposte em estratégias que promovam a gestão e reciclagem de resíduos, a coleta da água da chuva e o tratamento e reaproveitamento da água;
- Reduza o uso de agroquímicos na lavoura;
- Respeite as leis trabalhistas e a legislação ambiental;
- Faça gestão de riscos e auditorias frequentes;
- Adote a cultura de compliance.
Agricultura digital é aliada para aumentar a produção do milho
Nos próximos anos, o produtor de milho enfrentará o desafio de aumentar sua produção de maneira sustentável e socialmente responsável. Para isso, além de implementar as práticas da Agenda ESG, é fundamental que o agricultor invista em tecnologias que facilitem a gestão da lavoura e otimizem seus resultados.
Conforme explicado, os recursos associados à Agricultura Inteligente e Agricultura Digital serão essenciais para ajudar o produtor a alcançar esses objetivos.
Com o apoio de soluções como plataformas de agricultura digital, é possível aumentar significativamente a produção do milho. Graças a essa ferramenta, o agricultor Volmir Scheffler aumentou a rentabilidade da sua lavoura de milho safrinha em quase R$ 25 mil. Com o mesmo recurso, o Mychel Bravin incrementou sua produção de milho em quase 30%.
Estes exemplos mostram como a integração de dados da lavoura, gerar mapas agronômicos, realizar prescrições e facilitar o monitoramento do campo é central para otimização do cultivo de milho.