Em quase meio século, a agricultura brasileira aumentou exponencialmente a sua produção de grãos e a produtividade por hectare. A partir do uso de novas tecnologias e técnicas de manejo modernas, que direcionam o uso de insumos e consideram o potencial produtivo da área, o país passou de importador de alimentos, com elevada demanda interna por proteínas, para se tornar um dos maiores produtores do mundo, exportando para diversos países.
Para se ter ideia, a produção de grãos saiu de 46,9 milhões de toneladas na safra 1976/1977 para 251,7 milhões de toneladas esperadas ao final da safra 2019/2020, cinco vezes mais, segundo a série histórica da Conab. Os dados mostram, também, que a produtividade no período mais do que triplicou, de 1,2 toneladas para 3,8 toneladas por hectare.
Por outro lado, o total da área plantada não é nem duas vezes superior do que há quase meio século, avaliada em 65 milhões de hectares. Uma verdadeira façanha realizada pelos agricultores brasileiros, dado os inúmeros desafios nas áreas rurais.
Alguns desses obstáculos, como oscilações climáticas ou a incidência maior ou menos de pragas nas áreas produtivas, não são controladas pelo agricultor. Outros, a exemplo das dificuldades com o modal logístico, pela falta de rodovias para o escoamento da safra, ou mesmo a ausência de internet no campo, são aspectos que podem ser melhorados com planejamento à longo prazo.
O aumento da conectividade pode potencializar o manuseio de ferramentas que auxiliam o agricultor para uma rápida tomada de decisão no campo, possibilitando ter mais eficiência e agilidade no uso de aplicativos e tecnologias para gestão empresarial da fazenda, para o monitoramento agronômico, no acompanhamento do desempenho de híbridos e variedades ou de testes de defensivos no controle de pragas e plantas daninhas, por exemplo.
Apesar dos bons resultados até aqui, existe uma grande oportunidade em otimizar a forma de fazer agricultura visando manter e elevar o bom nível da competitividade brasileira no campo.
Falta de conectividade é barreira a ser superada
Acesso à internet pode dar novo salto de produtividade ao campo
No Brasil, a estimativa é que 70% das fazendas não tenham conexão com a internet, segundo levantamento realizado pelo IBGE em 2017. No total, 3,64 milhões das 5,07 milhões de propriedades rurais existentes no Brasil ainda não dispõem de conectividade. Em um cenário ideal, onde a maior parte das propriedades estivessem conectadas, as possibilidades de aumento da produtividade são significativamente maiores.
Para uma rápida comparação, os Estados Unidos, outro grande centro com uma agricultura robusta, produzem cerca de meio bilhão de toneladas de grãos por ano, segundo informações do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). Um dos muitos motivos de sucesso é justamente a conexão nas lavouras. Por lá, a maior parte das propriedades rurais são conectadas.
Com a internet, os produtores podem acompanhar as informações geradas por dispositivos e plataformas que ajudam no monitoramento da lavoura, possibilitando acompanhar a performance de seus talhões e maquinários, em tempo real.
“Ter conectividade no campo ajuda a tomar a decisão em momentos críticos, como a maneira como o operador está utilizando a máquina até a performance com a qual o plantio está acontecendo. Se essas informações estão disponíveis ao vivo ou diariamente, a tomada de decisão é mais rápida”, afirma Joseandro Luiz, gerente de Engenharia da Climate FieldView™.
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ConectarAGRO: potencial para elevar a capacidade produtiva no campo
Pensando em solucionar esse gargalo e impulsionar o uso de tecnologias já existentes, oito empresas se uniram em uma iniciativa inédita para ajudar o agronegócio nacional: AGCO, CNH Industrial, Jacto, Bayer, Nokia, TIM, Solinftec e Trimble anunciaram, durante a Agrishow de 2019, o ConectarAGRO, um consórcio para oferecer internet as áreas rurais, através da instalação de antenas.
Os resultados da sinergia de empresas de diferentes segmentos, como telecomunicações, máquinas e plataformas agrícolas, têm sido muito promissores. Para o primeiro ano, a meta era cobrir cinco milhões de hectares. Isso não só foi cumprido, como superado em 100 mil hectares. Deste total de 5,1 milhões de hectares, um milhão é destinado a pequenos produtores.
De maneira geral, o projeto visa trazer ao produtor um custo com investimento inferior ao que seria gasto para toda a instalação de uma infraestrutura em uma única propriedade e reduzir gastos com manutenção. Esse investimento pode variar de acordo com a região, mas está estimado em meia saca de soja por hectare, o que é um valor considerado baixo perto dos benefícios que o agricultor terá com a instalação de antenas próximas às suas fazendas.
Conectividade: mais precisão para ferramentas digitais
Para atuar no Brasil, muitas ferramentas utilizadas em outros países precisam passar por adaptações. Não foi diferente com o Climate FieldView™, plataforma de agricultura digital da Bayer, desenvolvida no principal centro de criação de startups do mundo, o Vale do Silício, na Califórnia (EUA).
Quando chegou por aqui, em 2015, a companhia teve de analisar o que se adequa à realidade das fazendas brasileiras e então fazer os ajustes necessários para o funcionamento eficiente da plataforma - é preciso considerar que não só a maior parte das propriedades americanas são conectadas, mas a qualidade e confiabilidade de suas conexões de internet também são superiores.
Para contornar a falta de conectividade no campo a primeira opção era, ao final do dia, levar os tablets usados em cada uma das máquinas de volta ao escritório da fazenda, onde existia conexão com a internet, e assim subir os dados de cada tablet individualmente para a nuvem.
“Era uma logística muito complicada. Um cliente com 30 iPads, tinha que tirar diariamente os 30 aparelhos de 30 maquinários diferentes, trazer para o escritório, plugá-los nos carregadores de energia elétrica, conectá-los na internet, e deixá-los a noite toda a enviar os dados para a nuvem. Era quase uma operação de guerra”, relembra Joseandro, colaborador que participou da implementação da plataforma da Climate nas primeiras lavouras no Brasil.
Foi pensando em como contornar esses desafios e em como facilitar a operação no campo que a Climate desenvolveu o FieldView™ Sync, aplicativo que captura e armazena em um único smartphone os dados da operação agrícola de todos os iPads utilizados no maquinário com a simples aproximação dos aparelhos, sem a necessidade de uma rede Wi-Fi. Hoje basta o agricultor levar um único aparelho com o FieldView™ Sync ao escritório e fazer a transferência dos dados de todos seus iPads paralelamente para a nuvem a partir deste único dispositivo.
Joseandro ressalta que, mesmo no nível de conexão de internet existente, as propriedades rurais brasileiras já contam com ótimos resultados com a tecnologia atual. Mas isso poderia ser ainda melhor. “O usuário só vai saber se a operação foi realizada na velocidade ideal quando os dados passarem do tablet para a nuvem”, diz.
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“Uma melhor cobertura 4G no campo permite que os agricultores monitorem toda suas operações em tempo real, eliminando, assim, a necessidade de enviar manualmente os dados para a nuvem. Tal cobertura revolucionará também como os agricultores veem cada detalhe da fazenda, pois será possível adquirir dados em tempo real de dispositivos como estações meteorológicas, e uma grande variedade de sensores, como umidade e condutividade de solo, detecção de pragas e doenças, etc”, completa o engenheiro da Climate.
O FieldView™ oferece ao agricultor inúmeras possibilidades no campo, como acompanhar a performance do maquinário, ser notificado em caso de alguma variabilidade em determinado talhão, comparar dados do histórico de safras anteriores, realizar manejos customizados em áreas de interesse, acompanhar a quantidade de sacas colhidas e a produtividade da propriedade e muito mais.
Com essas informações, o produtor rural pode otimizar a operação e ter mais eficiência desde a preparação da área até o momento da colheita, gerando benefícios econômicos e ambientais à fazenda.
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