Neste guia você vai encontrar tudo sobre a produção, plantio e cultivo de soja no Brasil e no mundo, informações sobre a planta e dicas fundamentais para a sua lavoura
Apresentação
A soja é considerada o ativo agrícola mais importante produzido no Brasil atualmente. A posição desse grão frente ao mercado brasileiro foi conquistada em função do longo processo de expansão da cultura e investimento maciço em tecnologias e técnicas de cultivo realizado nas últimas décadas.
Em função desse processo, o país conseguiu expandir suas fronteiras agrícolas, aumentar a cadeia produtiva de soja, tornar o processo de produção mais eficiente e melhorar o volume e a qualidade da produção. Como consequência, a produção anual brasileira aumentou mais de 500% nos últimos 30 anos, ultrapassando a marca de 130 milhões de toneladas de soja.
Esse cenário transformou o Brasil no maior produtor mundial desse grão, aumentando sua importância no mercado internacional de commodities agrícolas e influenciando nos números da balança comercial brasileira.
Além de beneficiar o país, os produtores rurais que investem no cultivo de soja também obtêm várias vantagens, como o aumento da sua renda. A depender da safra e da região de cultivo, o produtor pode lucrar em torno de R$ 1.500,00 por hectare de soja plantada.
Graças a essa lucratividade e ao investimento na estrutura do complexo de soja, até mesmo as regiões produtoras são beneficiadas, aumentando a renda e a qualidade de vida de seus moradores.
No entanto, para promover e obter todos esses benefícios, o primeiro passo é entender esse mercado, compreender como funciona o processo de produção de soja, quais as melhores técnicas de manejo e como obter bons resultados na safra.
Por isso, neste guia você vai entender tudo sobre a produção e plantio de soja no Brasil e no mundo, desde a história desse grão, sua importância no mercado global e impactos na economia brasileira, até informações sobre a planta, técnicas de cultivo e dicas de manejo.
Boa leitura!
Lavoura de soja.
História da soja no Brasil e no Mundo
Da Ásia para o mundo
A origem da soja, uma das plantas mais importantes para a alimentação humana e animal, é milenar. Um dos registros mais antigos sobre a planta foi realizado por volta do ano 2.838 a.C pelo imperador Sheng-Nung, num documento no qual ele descreve várias plantas chinesas.
Ao contrário do que muita gente imagina, apesar da crença de que a soja era uma planta exclusiva do continente asiático, existem vários registros que indicam a existência de variedades da planta em regiões da África e Austrália.
A associação da soja à Ásia parece estar relacionada ao início do cultivo do grão. Diversos relatos indicam que as primeiras plantações ocorreram por volta de 1.100 anos a.C.
Quase 1000 anos depois, por volta de 200 a 300 a.C, a soja passou a ser cultivada na Coreia e no Japão.
Essa data coincide com os primeiros registros do famoso shoyu, molho fermentado à base de soja, que já era usado no Século III a.C. Por isso, a origem da palavra “soja” está relacionada a outro termo: shoyu.
A palavra ocidentalizada reflete a presença dos europeus no Japão, especialmente dos holandeses, que começaram a fazer negócios no país a partir do século XVI.
Desde então, os holandeses passaram a associar o termo shoyo, utilizado para designar o famoso molho de soja, como sinônimo da própria planta.
Apesar disso, a produção de soja e de alimentos à base de seus grãos foi praticamente exclusiva do continente asiático por muito tempo. Isso explica a importância da planta para a alimentação de diversos países da região. Afinal, o cultivo de soja só chegou à Europa centenas de anos depois, em 1875.
Nos Estados Unidos, o cultivo de soja é citado pela primeira vez antes desse período, em 1804, inicialmente apenas para a produção de ração animal.
Seguindo as tendências de mercado dos países estrangeiros, os produtores brasileiros também começaram a investir na soja no fim do Século XIX, decisão considerada decisiva para o sucesso da cultura no Brasil.
Origem e difusão geográfica da soja pelo mundo - Fonte: Bonetti, 1970
A chegada da soja no Brasil
Os primeiros registros de plantio de soja em solo brasileiro datam de 1882. Na época, o cultivo era realizado na Bahia, já que os primeiros cultivares importados dos Estados Unidos não se adaptaram bem ao clima do Sul do país.
Quase 10 anos depois, em 1891, novos cultivares foram introduzidos em Campinas, São Paulo, e no Rio Grande do Sul. A princípio, todo cultivo era destinado à produção de alimentos para animais.
Somente no início do Século XX, após a chegada de imigrantes japoneses em São Paulo, foram introduzidos cultivares que poderiam ser utilizados para cultivo de grãos destinados à alimentação humana.
Depois disso, a soja começou a ser cultivada em Minas Gerais (1920), Santa Catarina (1930) e Goiás (1950). Nos demais estados da região Centro-Oeste e nos estados do Norte e Nordeste, a cultura só foi introduzida a partir de 1970.
Nessas regiões, a introdução da soja foi resultado da implementação de políticas públicas de expansão de fronteiras agrícolas do país, como o Polocentro, no período de 1975 a 1984, instituído no âmbito do II Plano Nacional de Desenvolvimento.
Outro fator determinante na expansão da produção de soja no Brasil foi o Programa Nipo-Brasileiro de Desenvolvimento Agrícola da Região dos Cerrados (Prodecer), que começou em 1974 e contou com três fases.
O Proceder foi realizado em parceria com o Japão, que financiou parte do programa para ampliar a oferta de alimentos no mercado internacional.
Graças a essas e outras iniciativas, os produtores rurais começaram a investir na produção de soja e de outras culturas em várias regiões do país, transformando a realidade econômica e tecnológica desses locais.
Plantio de soja.
Crescimento da produção de soja no Brasil
Apesar do primeiro registro de cultivo de soja ter ocorrido na Bahia no fim do século XIX, existem controvérsias em relação ao início comercial do grão.
Alguns autores afirmam que isso ocorreu em 1914, em Santa Rosa, Rio Grande do Sul. Outros afirmam que a cultura somente adquiriu alguma importância econômica no final dos anos 40.
Data de 1941 o primeiro registro estatístico nacional de produção de soja: produção de 457 toneladas (t), segundo o Anuário Agrícola do RS (número incomparavelmente menor do que a produção atual). Nessa época, a soja era cultivada prioritariamente para produzir feno para bovinos de leite.
A princípio, a exploração comercial da soja tinha como finalidade a alimentação de suínos e era realizada principalmente por produtores do Rio Grande do Sul.
Apesar da produção ainda ser pequena, o país realizou sua primeira exportação para a Alemanha em 1938. Porém, a produção do grão só começou a ganhar força mesmo a partir dos anos de 1940.
Em âmbito nacional, a produção já era muito maior. Em 1949, o Brasil registrou uma produção de soja na ordem de 25.881 t, o que colocou o país, pela primeira vez, nas estatísticas internacionais de produção agrícola.
Quase 10 anos depois, em 1951, o país recebeu sua primeira indústria para extração de óleo comestível de soja. O acontecimento foi acompanhado do rápido crescimento do cultivo do grão no país, cuja produção aumentou mais de 50 vezes na década de 1940.
Nas décadas de 1950 e 1960, a produção de soja cresceu em função da expansão da área de plantio. Porém, a produtividade da lavoura ainda era instável, já que era muito influenciada por questões ambientais e os agricultores não tinham muitas tecnologias disponíveis para melhorar a produção.
Neste cenário, a cultura cresceu ao longo da década de 1950: a produção foi 21% maior do que a registrada na década anterior.
Em 1954, o país atingiu a produção de 100 mil t de soja pela primeira vez, sendo que a maior foi colhida no Rio Grande do Sul, em função do plantio em solos mais férteis localizados em áreas de Mata Atlântica.
Depois do RS, o Paraná foi o segundo estado a ultrapassar a marca de produção de 100 mil t de soja, em 1967. Em seguida, a marca foi alcançada por São Paulo (1972), Santa Catarina (1972), Mato Grosso do Sul (1973) e Minas Gerais (1976).
Consolidação do cultivo de soja no Brasil
A década de 1970 é considerada o período no qual a produção de soja se consolidou no país. Esse período foi marcado pelo início das grandes expansões de áreas produtivas da oleaginosa no Brasil.
Além disso, foi nessa fase que os produtores começaram a ter acesso a novos recursos, como maquinários mais modernos, fertilizantes e novos cultivares resultantes da chamada Revolução Verde.
Esse termo é utilizado para se referir ao processo de modernização agrícola que começou entre 1960 e 1970 e permitiu o aumento da produção de alimentos em escala global.
Outro evento decisivo para o desenvolvimento dos sojicultores brasileiros foi a criação da Embrapa Soja em 1975.
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária é uma das instituições brasileiras responsáveis por pesquisar novos cultivares de soja, estudar soluções para combater problemas na lavoura, entre outras responsabilidades.
Graças ao massivo investimento em tecnologia, inovação e técnicas de cultivo, a produção brasileira de soja saltou de 9.893 milhões de toneladas em 1975 para mais de 300 milhões de toneladas na safra 2022/23, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Nesse período, a área utilizada para plantio de soja também aumentou significativamente. Em 1975, a área destinada para o cultivo do grão era de apenas 5.824 milhões de hectares.
Em contrapartida, a Conab estima que mais de 42 milhões de hectares serão utilizados para o plantio da oleaginosa na safra 2022/23. Graças a esse cenário de crescimento e alta produtividade, o Brasil se tornou o maior produtor e exportador de soja do mundo.
Silos de soja.
Produção de soja no Brasil
A versatilidade da soja
Para entender a importância do cultivo da soja para o país, é necessário conhecer as características nutricionais desse grão.
A maioria dos cultivares produz grãos com teor médio de proteína que varia entre 36% e 40%, podendo chegar a 45% nos cultivares mais avançados.
Além de ser um alimento de alto valor calórico-proteico, essa oleaginosa também é composta por lipídios ricos em ácidos graxos poli-insaturados e carboidratos com atividade prebiótica.
Graças a essas características, 93% da produção da oleaginosa é destinada ao processamento do complexo de soja, ou seja, à produção de grãos, farelo e óleo, o que torna a soja uma das principais commodities do mundo.
Em função do seu teor nutricional, o farelo desse grão é destinado à produção de ração. Hoje, quase 70% da proteína usada em rações animais é composta por soja. Além disso, o farelo também pode ser usado na composição de outros produtos, como cola para madeira, por exemplo.
Além disso, a indústria de alimentos também utiliza esse grão para a produção de óleo, farinha e lecitina, um emulsificante rico em nutrientes muito usado na produção de diversos processados.
Em função do seu teor nutricional, a soja também é muito usada por veganos e vegetarianos como uma alternativa de alta qualidade para substituir o consumo de proteína animal.
O restante da produção de soja, equivalente a cerca de 7% do total, é destinado a outros fins não-alimentícios.
O óleo, por exemplo, pode ser usado na fabricação de medicamentos e biodiesel. Outros derivados da oleaginosa também podem ser utilizados na fabricação de tintas, plásticos, revestimentos, cosméticos, entre outros produtos.
Diante dessa versatilidade, a produção de soja é essencial não só para a alimentação humana, como também para diferentes cadeias de valor, tornando-se importante fonte de renda.
Colheitadeira despeja grãos de soja no caminhão.
Principais produtores de soja brasileiros
Atualmente, as regiões Sul e Centro-Oeste do país concentram cerca de 78,2% da área de cultivo de soja do país. No Sul, as microrregiões produtoras são compostas por cidades pequenas, com sedes próximas umas das outras.
Já na região Centro-Oeste, as microrregiões são constituídas por municípios com grande extensão territorial e sedes distantes umas das outras. Essas características também têm reflexo na extensão das propriedades rurais, que são maiores nos estados da região central do país.
Em função de vários fatores edafoclimáticos, ambientais, econômicos e sociais, os maiores estados produtores de soja do país também estão localizados na região Centro-Oeste.
O Mato Grosso lidera esse ranking, sendo responsável pela exportação de 20,117 milhões de toneladas de soja apenas no primeiro semestre de 2022, valor que corresponde a 37,91% das exportações brasileiras no período.
Depois do Mato Grosso, estados como Rio Grande do Sul, Paraná e Goiás também se destacam como grandes exportadores do grão.
Tanto na região Sul quanto no Centro-Oeste, o desenvolvimento agrícola da cultura influenciou no crescimento regional e na instalação de indústrias associadas à cadeia de produção, transformando a estrutura fundiária, promovendo a evolução logística e de infraestrutura, entre outros impactos.
O mesmo processo também está em andamento em regiões produtoras de soja do Norte e Nordeste, especialmente no Matopiba (região composta por parte dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) e no Pará.
De acordo com dados da Conab, somente os estados do Matopiba devem produzir, juntos, cerca de 17,3 milhões de toneladas de soja na safra 2021/22, o que representa 14% da produção nacional da oleaginosa.
Esses dados reforçam que a expansão do cultivo da soja para outras regiões do país, fora do eixo Sul-Centro-Oeste, já está gerando resultados positivos e tende a crescer.
Para onde vai nossa produção?
A maior parte da produção brasileira de soja é enviada para o exterior. Quase 44% do total é exportada ainda como grão.
Cerca de 49% da produção são processadas em indústrias brasileiras para a fabricação, principalmente, de farelo de soja, óleo de soja e biocombustíveis, que são comercializados no mercado interno e externo.
O principal comprador da soja brasileira é a China, que apenas no período de janeiro a junho de 2022 importou mais de 32 milhões de toneladas da produção de soja do Brasil.
Depois da China, o segundo maior importador é a Espanha, que comprou mais de 2 milhões de toneladas nesse mesmo período, seguida pela Holanda, que importou 1,689 milhão de toneladas.
A diferença entre o volume comprado pela China e pela Espanha mostra a relevância dos clientes asiáticos para os sojicultores brasileiros e o impacto dessas exportações na balança comercial.
Impacto do cultivo da soja na economia do Brasil
A soja é considerada um elemento-chave para o processo de desenvolvimento agroindustrial do país.
Graças aos investimentos realizados para a modernização das práticas de cultivo, redução de custos operacionais, crescimento da produtividade da lavoura, entre outras conquistas, o estabelecimento da soja foi determinante para a melhoria social e econômica de várias regiões do país.
Afinal, o aumento da produção da oleaginosa provocou uma mudança significativa em diversos pontos da cadeia produtiva do agronegócio brasileiro. Em função disso, a soja é associada a várias melhorias, tais como:
- Promoção da agricultura empresarial, que superou a agricultura de subsistência;
- Desenvolvimento da indústria de maquinário agrícola;
- Ampliação e modernização da infraestrutura e do sistema de transporte;
- Expansão das fronteiras agrícolas;
- Profissionalização e expansão do comércio internacional;
- Urbanização e modernização de várias regiões do país, especialmente do Centro-Oeste brasileiro;
- Descentralização da agroindústria nacional;
- Expansão da produção agropecuária;
- Estímulo à migração para o interior do país;
- Aumento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro.
O cultivo da soja movimenta a economia da país.
+ LEIA: Qual a participação do agronegócio no PIB brasileiro?
Geração de emprego e mudanças sociais
A cadeia produtiva da soja é responsável por empregar milhares de pessoas, direta ou indiretamente, contribuindo para o estímulo da economia regional e para a melhoria de parâmetros sociais.
De acordo com Montoya et al., a estimativa é que essa cadeia produtiva de soja seja responsável por gerar mais de 3,7 milhões de empregos.
Em função disso, o índice de desenvolvimento humano (IDH) avançou significativamente em vários municípios nos quais a soja é cultivada.
Segundo dados da Consultoria MBAgro, a estimativa é que o IDH médio dos municípios que produzem soja seja 10% maior em comparação àqueles que não produzem.
Essa melhoria foi resultado de um conjunto de estímulos promovidos pela implementação e expansão da produção da oleaginosa.
Os investimentos em outras culturas, como milho safrinha e cana-de-açúcar, e na criação de suínos, aves e bovinos são algumas consequências desse estímulo.
Nesse cenário, a produção e interiorização da soja no país também impulsionou a implementação de agroindústrias de processamento da oleaginosa, de carnes e de biocombustíveis.
Tudo isso contribuiu para a geração de empregos, construção de escolas e hospitais, bem como o aquecimento do comércio local, a melhoria da infraestrutura e da qualidade de vida.
Nesse contexto, a cadeia produtiva da soja provocou mudanças sociais importantes, já que estimulou a migração para regiões distantes dos principais centros urbanos, reduzindo a pressão populacional nas grandes cidades.
Em função disso, cidades como Passo Fundo (RS), Londrina (PR), Cascavel (PR), Cuiabá (MT), Rondonópolis (MT), Rio Verde (GO) e Luís Eduardo Magalhães (BA), entre outras, tiveram impulso no desenvolvimento, ganhando maior relevância econômica.
O futuro da soja
Os sojicultores têm um grande desafio pela frente: aumentar significativamente a produção de forma eficiente, otimizando o uso de recursos ambientais para que a produção agrícola continue viável a longo prazo.
Esse desafio é resultado do cenário projetado para as próximas décadas. De acordo com a a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), a produção agrícola precisa crescer quase 70% até 2050 para atender o aumento da demanda por alimentos, já que a estimativa é que a população mundial atinja 9,8 bilhões de pessoas nesse período.
Como a soja é uma das principais commodities agrícolas do mundo e é considerada um alimento essencial para a alimentação humana e animal, a estimativa é que a produção mundial do grão aumente cerca de 50% até 2050, passando de 315 milhões para 515 milhões de toneladas de soja.
Em função da sua disponibilidade de terras aptas para o plantio, capacidade tecnológica para produzir em regiões tropicais e o modo de gestão agrícola empresarial adotado pelos sojicultores brasileiros, o Brasil é considerado o país com maior potencial para atender esse aumento significativo de produção de soja nos próximos anos.
Nesse contexto, a expectativa é que a expansão das fronteiras agrícolas no país, como das regiões do Matopiba, e das partes Leste e Sudoeste do Centro-Oeste, devem continuar ocorrendo.
Essa expansão deve ser acompanhada de boas práticas agrícolas que garantam a sustentabilidade do uso do solo e dos recursos hídricos, bem como a aplicação inteligente de defensivos.
Assim, os produtores agregam valor à sua safra e atendem parâmetros internacionais de produção agrícola, que estão cada vez mais exigentes com relação à sustentabilidade da cadeia produtiva.
Drone monitora lavoura de soja.
Inovações essenciais para as próximas décadas
Tanto para aumentar a produção, quanto para torná-la mais eficiente e sustentável, os sojicultores devem continuar cada vez mais dependentes do uso de tecnologias para modernizar a lavoura e otimizar os processos de produção.
Para isso, devem aumentar o investimento em recursos da Agricultura de Precisão e da Agricultura Digital, como drones, sensores e softwares de gestão agrícola.
Nos próximos anos, os produtores também devem ter acesso a produtos eco-friendly tecnológicos, recursos integrados com Internet das Coisas (IoT), Big Data e Inteligência artificial, bem como smart machines, ou seja, maquinário autônomo, entre outros recursos.
Como a tendência é que o agro continue se modernizando e agregando soluções tecnológicas, o ideal é que o produtor acompanhe de perto as inovações e se prepare para adotá-las na sua lavoura.
Aspectos botânicos e ecofisiológicos da soja
Características da soja
A soja, também conhecida pelo nome científico Glycine max, é uma planta herbácea que pertence à família Fabaceae, também conhecida como Leguminosae.
Ela apresenta uma ampla variedade genética tanto no período vegetativo (que começa na emergência da plântula e termina na abertura das primeiras flores), quanto no período reprodutivo (que abrange as fases de floração e frutificação).
Ao todo, esse ciclo de vida pode variar bastante a depender do cultivar utilizado. A maioria dos cultivares plantados no país tem ciclo que varia entre 60 e 120 dias.
Além disso, eles podem ser classificados em grupos de maturação precoce, semiprecoce, médio, semitardio e tardio.
As características botânicas dessa planta também variam de acordo com as condições ambientais. Em geral, ela apresenta os seguintes caracteres:
- Folhas: podem apresentar até 4 tipos de folhas verdes ao longo do ciclo de vida (cotiledonares, simples, trifolioladas ou compostas e prófilos simples);
- Caule: ramoso e rígido, que varia entre 80 e 150 cm a depender do cultivar e do tempo de exposição à luz;
- Flores: brancas, levemente roxas ou roxas, com 3 a 8 mm de diâmetro. O início da floração ocorre quando a planta apresenta entre 10 e 12 folhas trifolioladas;
- Sistema radicular: composto por um eixo principal e várias raízes secundárias. Geralmente, o sistema apresenta até 15 cm de profundidade;
- Vagem: o legume da soja é levemente arqueado, repleto de pelos e pode medir entre 2 e 7 cm de comprimento, sendo que cada vagem pode apresentar entre 1 e 5 sementes. A cor desse legume também varia a depender do estágio de desenvolvimento da planta, podendo ir de verde a amarelo-palha e cinza;
- Sementes: os grãos são lisos, ovais, com cores que variam entre o verde e o amarelo, a depender do estágio de desenvolvimento e do cultivar.
Grãos de soja na vagem.
Ecofisiologia da soja
A ecofisiologia se refere aos estádios fenológicos (reprodutivos e vegetativos), aos tipos de crescimento e às condições edafoclimáticas ideais para o desenvolvimento da soja.
Estádios fenológicos
Conhecer os estádios fenológicos é fundamental para entender quais as necessidades e características da soja em cada fase de desenvolvimento.
Para facilitar a compreensão desse processo, o ciclo da soja é dividido em estádio vegetativo (V) e reprodutivo (R).
O estádio vegetativo se inicia com a emergência dos cotilédones da plântula, fase denominada como VE (emergência).
Essa fase é seguida pelo período de abertura e expansão completa dos cotilédones, chamada de VC.
A partir daí, os estádios vegetativos são numerados na sequência: V1, V2, V3, ... Vn, até o surgimento das primeiras flores (Tabela 1).
Tabela 1: Estádios vegetativos da soja. Fonte: Tecnologias de Produção de Soja (Embrapa)
O estádio reprodutivo se inicia após o estádio vegetativo. Ele é composto por todas as fases de desenvolvimento da planta desde o florescimento até a maturação dos grãos. Como esse período é marcado por mudanças significativas, ele também é numerado de R1 a R8 (Tabela 2).
Tabela 2: Estádios reprodutivos da soja. Fonte: Tecnologias de Produção de Soja (Embrapa)
Veja também: Aprenda quais os grupos de maturação da soja e saiba como calculá-los
Tipos de crescimento
A depender das características dos cultivares de soja, essa cultura também pode ser classificada de acordo com o tipo de crescimento da seguinte forma:
- Determinado: a soja cresce pouco após o início do florescimento, que ocorre de forma simultânea em toda a planta. As vagens e grãos também se desenvolvem praticamente ao mesmo tempo e o tamanho das folhas de toda a planta também é homogêneo;
- Indeterminado: a soja continua se desenvolvendo após o florescimento, aumentando sua estatura. O florescimento e desenvolvimento das vagens começam a partir da base da planta, de baixo para cima, enquanto as folhas são menores no topo;
- Semideterminado: apresenta características dos tipos determinado e indeterminado.
Exigências ambientais
O desenvolvimento saudável da cultura depende das características dos parâmetros abaixo:
- Irrigação: a cultura exige um volume de água que varia de 450 mm a 800 mm/ciclo, sendo que essa necessidade aumenta à medida que o ciclo de desenvolvimento avança, atingindo seu ápice durante o período de floração e enchimento de grãos;
- Temperatura: o ideal é que a soja seja cultivada em locais onde a temperatura do ar e do solo fiquem na faixa entre 20ºC e 30ºC;
- Solo: a cultura exige que o solo utilizado no plantio apresente uma boa estrutura, capacidade de retenção de água, drenagem adequada e tenha os nutrientes necessários para o desenvolvimento da planta. Além disso, a soja se desenvolve melhor em solos com teores de argila que variam entre 15% e 35%.
Plantio de soja.
Cultivo de soja: da semeadura à colheita
Semeadura
A fase da semeadura ou plantio de soja é determinante no estabelecimento da lavoura. Se feita da forma correta, ela influencia em todo ciclo de desenvolvimento da planta. Para isso, basicamente o sojicultor precisa tomar os seguintes cuidados:
- Definição do período de plantio: essa decisão deve ser baseada no calendário agrícola e nas portarias divulgadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), específicas para cada estado brasileiro;
- Escolha do cultivar: existem mais de 2 mil cultivares registrados no Mapa;
- Uso de biotecnologia ou de soja convencional: muitos sojicultores plantam a lavoura com sementes desenvolvidas com biotecnologia, como as tecnologias Intacta e RR (Roundup Ready), embora muitos agricultores ainda usem cultivares de soja convencional. A escolha entre elas depende da análise de vários fatores, tais como clima, solo, histórico de pragas e desempenho da safra;
- Invista no tratamento das sementes: adquira sementes tratadas industrialmente ou siga as orientações do agrônomo e aplique defensivos nas sementes para controlar fungos e pragas que possam prejudicar o desenvolvimento inicial da lavoura;
- Preparo do solo: começa a partir da análise do solo, que permite a identificação dos níveis de fertilidade da área. A partir dessas informações, o produtor inicia a aplicação de cal, gesso e fertilizantes nas proporções ideais para que a lavoura tenha acesso aos macros e micronutrientes essenciais para o seu desenvolvimento;
- Definição do espaçamento entre linhas: o ideal é que a faixa de espaçamento entre fileiras seja de 40 cm a 50 cm;
- Regulagem do maquinário: é fundamental fazer a manutenção e os ajustes da semeadora ou plantadeira antes do início do plantio. Nessa fase, também é importante definir a profundidade dos sulcos, calcular a quantidade de sementes necessárias para o plantio em cada talhão e, se possível, colocar o tipo e a quantidade ideal de fertilizantes em cada região da lavoura.
+ LEIA MAIS: Netamóides na soja: tudo o que você precisa fazer para controlar
Manejo da soja
Identificando pragas
O monitoramento constante da lavoura é fundamental para a identificação precoce das pragas que atacam a soja. Caso essa identificação não seja realizada com antecedência, o produtor enfrentará dificuldades para aplicar defensivos no momento certo para um controle fitossanitário eficiente.
Nesse cenário, além de aumentar os gastos com inseticidas e nematicidas, a infestação pode se descontrolar e comprometer significativamente a produção.
Para evitar esses problemas, aumentando a assertividade da aplicação de defensivos, o ideal é usar as práticas de Manejo Integrado de Pragas (MIP), como o monitoramento cuidadoso de cada talhão.
Principais pragas da soja
- Percevejo-marrom (Euschistus heros);
Percevejo-marrom.
- Lagarta Helicoverpa (Helicoverpa armigera);
Lagarta Helicoverpa
- Lagarta da soja (Anticarsia gemmatalis);
- Lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda);
- Lagarta-elasmo (Elasmopalpus lignosellus);
Lagarta-elasmo em platação de soja.
- Lagarta-falsa-medideira (Chrysodeixis includens);
- Lagartas broqueadoras de vagens e grãos;
- Mosca-branca (Bemisia sp.);
Mosca-branca em folhas de soja.
- Percevejo-castanho (Scaptocoris spp.);
- Tamanduá-da-soja (Sternechus subsignatus).
Leia também: Como fazer o controle de pragas da soja corretamente
Identificando doenças
As doenças da soja são uma das principais responsáveis pela redução do rendimento da lavoura, já que pode provocar uma queda significativa da produção.
O impacto dessas doenças aumentou nos últimos anos em função de diversos fatores, como o aumento da área semeada, a expansão da cultura para novas regiões e a disseminação de novos patógenos.
Como o número de doenças que atinge a cultura é grande, a identificação dos patógenos exige conhecimento técnico, investimento em técnicas de monitoramento, bem como o acompanhamento constante da lavoura.
Por isso, o ideal é que o produtor invista num programa eficiente de controle de doenças na soja, que inclui o Manejo Integrado de Doenças (MID).
Com o apoio de tecnologias e especialistas, é possível identificar a doença de forma precoce e definir estratégias de manejo adequadas para os patógenos, já que as doenças exigem controles diferentes.
Confira abaixo as principais enfermidades que atingem a soja:
Principais doenças da soja
- Ferrugem-asiática em soja (Phakopsora pachyrizi);
Ferrugem asiática em soja.
- Podridão radicular de fitóftora (Phytophthora sojae);
Podridão radicular.
- Antracnose (Colletotrichum truncatum);
Antracnose em soja.
- Mancha-alvo (Corynespora cassicola);
Mancha-alvo em folhas de soja.
- Mofo-branco (Sclerotinia sclerotiorum);
Mofo-branco em caules de soja.
- Oídio (Microsphaera diffusa);
- Podridão-de-carvão (Macrophomina phaseolina);
- Crestamento foliar de cercospora (Cercospora kikuchii);
- Mancha-parda ou septoriose (Septoria glycines).
Manejo de plantas daninhas
As plantas daninhas competem com a soja pelo acesso à água e aos nutrientes do solo. Como consequência, ela reduz a disponibilidade desses recursos à lavoura, prejudicando o desenvolvimento saudável da cultura. Para evitar esses problemas, é fundamental seguir as orientações abaixo:
- Faça o controle químico e cultural da lavoura;
- Invista em sementes de qualidade;
- Faça o controle rígido de limpeza de máquinas e equipamentos;
- Fique atento à ocorrência de plantas daninhas em áreas próximas à fazenda;
- Escolha cultivares recomendados para a região;
- Semeie no período correto;
- Plante uma cultura de cobertura durante a entressafra;
- Aplique uma cobertura de palhada para proteger o solo;
- Siga as recomendações técnicas de aplicação de herbicidas, evitando a seleção de plantas daninhas com tolerância ou resistência a determinados defensivos.
Principais plantas daninhas que prejudicam a soja
- Buva (Conyza spp);
- Capim-amargoso (Digitaria insularis);
- Vassourinha-de-botão (Borreria verticillata);
- Erva-quente (Spermacoce latifolia);
- Capim-pé-de-galinha (Eleusine indica);
- Caruru (Amaranthus palmeri);
- Azevém (Lolium multiflorum);
- Trapoeraba (Commelina benghalensis);
- Corda-de-viola (Ipomoea acuminata);
- Poaia-branca (Richardia brasiliensis).
Colheita da soja
A soja é uma das culturas agrícolas mais tecnificadas do país. Equipamentos imponentes e modernos são utilizados em todo o processo da lavoura, como plantio, pulverização e colheita.
O processo de colheita, especificamente, tem sido realizado por equipamentos de alta performance e dotados de tecnologias de ponta, que permitem maior precisão e eficiência, com mapeamento e acompanhamento em tempo real das operações.
Para que a colheita seja feita com sucesso, reduzindo o número de perdas, o produtor precisa ficar atento aos seguintes cuidados:
- Período da colheita: deve ser realizada quando a soja atingir sua maturidade plena, ou seja, quando alcançar o estádio reprodutivo R7;
- Ponto ideal: a lavoura precisa apresentar entre 13% e 15% de teor de umidade e cerca de 70% das vagens com coloração marrom, bronzeada ou cinza;
- Regulagem das colheitadeiras: ajustar, lubrificar e, se necessário, substituir peças do maquinário é essencial para reduzir as perdas durante o processo.
+ CONFIRA: Colheita da soja: 6 passos para assegurar sua produtividade
Dicas essenciais para ter sucesso na produção de soja
Conheça os fatores determinantes para boa produtividade:
- Planejamento da safra;
- Semeadura bem-sucedida;
- Incidência de luz em folhas sadias;
- Irrigação eficiente;
- Fertilidade do solo;
- Temperatura e umidade;
- Número de plantas por área, de vagens por planta e de grãos por vagem;
- Peso de grãos;
- Manejo de doenças e pragas;
- Manejo de plantas daninhas;
- Adoção de boas práticas de colheita.
Adote boas práticas de implantação da cultura:
- Faça a análise do solo;
- Invista na rotação de cultura;
- Adquira sementes de qualidade e boa procedência;
- Contrate mão de obra qualificada, especialmente para a operação do maquinário;
- Aplique defensivos apenas nas doses necessárias;
- Invista no monitoramento da lavoura;
- Adote o Sistema de Plantio Direto (SPD);
- Utilize os recursos da Agricultura de Precisão e Agricultura Digital para melhorar as tomadas de decisão e tornar a produção mais eficiente.
Produtor acompanha no tablet os dados da colheita.
Confira as melhores dicas para uma boa colheita:
- Faça o planejamento da safra: escolha o sistema de plantio, os cultivares, a semeadura, entre outras estratégias que devem ser aplicadas desde o manejo até a colheita. Lembre-se que o início e a quantidade de safras ao ano dependem do calendário agrícola e das portarias emitidas pelo Mapa;
- Faça o manejo de plantas daninhas: além de prejudicar o desenvolvimento da soja, as daninhas podem causar o embuchamento das colheitadeiras, o que pode danificar o maquinário e atrasar a operação. Por isso, é melhor se livrar delas antes de iniciar a colheita;
- Invista na dessecação da lavoura: em geral, o defensivo responsável pela dessecação é aplicado no início do estágio R7. Esse dessecante provoca a morte precoce da parte vegetativa e estimula o amadurecimento dos grãos. Assim, é possível antecipar a colheita;
- Ajuste a velocidade do maquinário: o ideal é que a colheitadeira seja operada numa velocidade entre 4 e 6,5 km/h. Dessa forma, é possível otimizar o processo e evitar perdas de grãos;
- Cuide do armazenamento da produção: após a colheita, os grãos devem ser transportados e armazenados em silos arejados, com temperatura entre 14ºC e 18ºC e umidade abaixo dos 11%. Caso contrário, a produção pode ser atacada por pragas e doenças.
Panorama da soja no Brasil.
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