Para dessecar a área e garantir o plantio no “limpo”, o sojicultor precisa adotar boas práticas de aplicação de herbicidas para soja
Pulverização em soja - Crédito: ShutterstockAdotada com o objetivo de eliminar toda a vegetaçãoMas pulverizar com eficiência e segurança exige uma série de cuidados em uma área, antes da semeadura de uma determinada cultura – o que inclui controlar plantas daninhas e restos de culturas antecessoras. A dessecação pré-plantio mitiga o desenvolvimento das plantas invasoras na lavoura.
Esse manejo vai impedir a competição por água, luz e nutrientes do solo entre a cultura e as daninhas. Além disso, evita-se que essas plantas indesejadas sejam hospedeiras de pragas que sobreviveram na área e podem atacar a cultura.
Cada vez mais tecnificado, o produtor da principal cultura do país, a soja, sabe que o controle das daninhas exige um manejo apropriado, que inclui a aplicação de herbicida para soja com mecanismo de ação adequado para cada tipo de planta daninha detectada na área.
Mas, além disso, a operação de pulverização em dessecação precisa atender a inúmeros quesitos técnicos. Confira, a seguir, as boas práticas de dessecação, os cuidados necessários para a pulverização de herbicidas para soja e como a agricultura digital é aliada do produtor no controle das invasoras indesejadas.
Como fazer uma dessecação bem-feita
No próximo dia 25 de setembro, a engenheira agrônoma e gerente do Grupo Sementes Vitória, Patrícia de Faria Dias, vai iniciar o plantio de soja, e as expectativas são as melhores possíveis. “Nossos solos são bem cuidados, onde já produzimos soja há muitos anos”, diz a agrônoma, que acrescenta: “agora só falta o clima ajudar”.
O otimismo de Patrícia não é por acaso. Com foco em otimizar os resultados do campo, a propriedade não prescinde das boas práticas agrícolas. “Estamos fazendo da melhor maneira o que é a nossa parte.” Dentro do manejo da cultura da soja, a fazenda adota a dessecação, aplicando os herbicidas para soja pré-emergentes e, depois, os pós-emergentes.
Para ela, a prática da dessecação é crucial para se eliminar as plantas daninhas remanescentes, visando chegar com a área “limpa” no momento do plantio. Por lá, um diferencial é que o controle da infestação da área acontece a partir de julho. “Não esperamos agosto e setembro chegarem para tomarmos providências contra as daninhas. São cuidados tomados justamente para que haja menor competição com a lavoura que será cultivada”, salienta a agrônoma do Grupo Sementes Vitória, sediado em Rio Verde (GO).
Para Patrícia, a prática é estratégia essencial, especialmente, para o controle da planta daninha que tem trazido mais dor de cabeça na propriedade: a buva. “Se não fizermos bom controle antes do plantio, ela escapa. Aí teremos que conviver com essa daninha até o final da safra ou precisarei colocar pessoas para catar a planta manualmente na lavoura.” Preocupação que se estende a todas as outras daninhas incidentes na área.
Saiba mais: Como controlar o grande problema do agricultor: as plantas daninhas
Mas quando chega o período da dessecação no pré-plantio da soja, muita atenção com o momento exato de realizá-la.
Segundo o engenheiro agrônomo e pesquisador da Embrapa Paraná, Fernando Adegas, uma das dificuldades da dessecação é avaliar o momento correto desse tipo de manejo na lavoura. “É comum ter perdas de produtividade caso a dessecação seja feita em um momento errado. O produtor precisa monitorar o plantio e saber o momento exato da aplicação e o motivo que o levou a aplicar esse manejo.”
Wagner Justiniano, engenheiro agrônomo do time de desenvolvimento de mercado da Bayer, reforça que, antes de tudo, é preciso identificar quais são as invasoras presentes. “Precisa verificar se tem daninhas de folha larga ou estreita e sem tem daninhas resistentes ao Glifosato, pois apenas com estes dados se terá condições de fazer um bom planejamento da dessecação, escolhendo os herbicidas para soja mais adequados de acordo com o tipo de infestação que tem na área e traçando a melhor tática de aplicação.”
Por isso, Patrícia está sempre de olho no calendário visando à aplicação assertiva de herbicidas no período de dessecação. “Para o controle da braquiária, por exemplo, tenho que fazer com um mês de antecedência.” De modo geral, recomenda-se que a operação seja feita 30 dias antes do plantio, no mínimo. Nas regiões mais quentes, já é possível fazer com uma antecedência de 14 a 21 dias.
Escolha correta do herbicida para a dessecação
É muito importante utilizar a tecnologia de aplicação adequada no processo de dessecação. Com essa finalidade, é possível utilizar tanto herbicidas sobre o solo quanto sobre as folhas das plantas. Além disso, na hora de escolher o produto a ser aplicado, o produtor deve estar atento ao mecanismo de ação do herbicida, podendo ser de ação sistêmica ou de contato. Confira a diferença:
- Herbicidas para soja aplicados diretamente no solo: o produto se desloca das raízes em direção às folhas;
- Herbicidas de contato para soja: são aplicados nas folhas; têm ação rápida sobre a parte da planta que atingiram (este herbicida não se move internamente nas plantas);
- Herbicidas para soja sistêmicos: são aplicados nas folhas e movimentam-se no interior da planta.
Boas práticas para a pulverização em dessecação
Os pontos de partida da pulverização em dessecação já estão claros: conhecer as daninhas presentes e definir cuidadosamente o tipo de herbicida a ser aplicado. Assim, será possível o controle eficiente das plantas invasoras e não perder dinheiro.
Visando melhorar o desempenho do pulverizador durante a operação de aplicação, o produtor precisa se preocupar com um conjunto de fatores relacionados ao equipamento, como a calibração e regulagem, e a capacitação da mão de obra. “Quem trabalha com pulverização de defensivos tem que passar por reciclagem anualmente, abordando pontos de segurança na operação, tamanho de gotas, condições climáticas, práticas de segurança”, afirma Justiniano.
Pulverizador bem regulado e calibrado é garantia de uma aplicação eficiente e segura
Para realizar a pulverização, o equipamento precisa ser devidamente regulado, o que consiste em prepará-lo para produzir as gotas de uma determinada classe de tamanho e aplicar uma determinada taxa de aplicação (l/ha), da calda do defensivo.
Para tanto, é recomendável fazer um checklist de diferentes aspectos que podem influenciar no desempenho do pulverizador, estando atento aos seguintes tópicos:
- Ajuste dos bicos;
- Ajuste da distância entre bicos;
- Ajuste da altura da barra;
- Ajuste da velocidade do trator;
- Ajuste da rotação (geral 540 rpm na TDP);
- Ajuste da pressão.
Bico de aplicação do pulverizador e gotas de pulverização
O pulverizador deve usar uma ponta (bico) de aplicação que permita boa cobertura do produto químico na área a ser aplicada, mas que também ofereça segurança quanto ao risco de deriva. “Para herbicidas, deve-se escolher uma ponta de aplicação que gere gotas que sejam, de preferência, grossas, muito grossas ou até extremamente grossas, visando à redução do potencial de risco de deriva”, salienta Justiniano. Vale frisar que deriva é o movimento do herbicida para fora do alvo, podendo atingir lavouras vizinhas ou causar contaminação ambiental.
Geralmente, indicam-se pontas médias e finas para a pulverização com fungicidas e inseticidas – produtos que são aplicados mais para o final do ciclo da soja.
É interessante conhecer os espectros de gotas de pulverização, segundo Fernando Adegas, da Embrapa Soja:
- Muito fina (menores que 119 µm);
- Fina (entre 119 e 216 µm);
- Média (entre 217 e 353 µm);
- Grossa (entre 354 e 464 µm);
- Muito grossa (acima de 464 µm).
Velocidade de aplicação
Durante a operação de pulverização, a velocidade do equipamento não deve exceder os 24 km/h. “A partir dessa velocidade, pode-se gerar turbulência atrás das barras de pulverização, favorecendo o deslocamentos das gotas menores fora do alvo e aumentando o risco de deriva”, ressalta Justiniano.
Mas essa velocidade pode variar de acordo com a declividade do terreno. “Se a área for declivosa, o produtor tem que reduzir a velocidade para que o equipamento consiga se deslocar, mantendo as barras estáveis, sem grandes variações entre a ponta e o alvo”, diz o agrônomo da Bayer. A velocidade em terrenos mais acidentados é definida pelo operador mediante a dificuldade de se manter as barras estabilizadas.
Calibração e limpeza do pulverizador
O operador precisa verificar se o desempenho do pulverizador está como o previsto pela regulagem e fazer os ajustes finos na pressão para deixar o equipamento apto a fazer a aplicação do produto na área determinada. Trata-se da calibração, em que é feito o diagnóstico do estado das pontas, que, se excederem a taxa nominal indicada pelo fabricante, precisam ser substituídas.
No momento de calibrar, o operador precisa colocar o equipamento em funcionamento com água limpa para verificar se o volume real do equipamento coincide com o que é indicado no computador de bordo. “Se tiver variação acima de 5%, tem que reajustar”, observa Justiniano.
O pulverizador tem que ser submetido a inspeções periódicas, mas também, no momento da operação, precisa ser checado. É preciso averiguar o sistema hidráulico e se o equipamento está seguro para operar. “O pulverizador também tem que estar limpo, para que não se corra o risco de contaminação do produto”, pontua o profissional do time de desenvolvimento de mercado da Bayer.
E sempre, após cada operação, ele sugere jogar água limpa no circuito hidráulico para não haver encrostamento de produto químico. Além disso, todos os filtros do equipamento precisam de limpeza periódica.
Definição do volume de calda de pulverização
Outro passo importante para a pulverização é a definição do volume de calda. “Tenho que analisar a quantidade de calda a ser aplicada para obter a cobertura adequada da área”, enfatiza Justiniano. Segundo ele, é necessário ajustar a relação entre o volume e o tamanho da gota. “É que, se reduzo muito a quantidade de calda, para que possa aumentar a cobertura de área, tenho que diminuir o tamanho da gota”, exemplifica.
O volume, geralmente, está indicado na bula do produto, mas, para herbicidas de gotas extremamente grossas, trabalha-se com volume acima de 100 litros por hectare. Com esse patamar, é possível produzir gotas seguras (extremamente ou ultragrossas), mantendo boa cobertura na aplicação.
Outra recomendação é a utilização de água limpa, evitando contaminação da área, danos aos equipamentos e reação com o produto a ser aplicado.
A pulverização exige condições climáticas adequadas
Quando o pulverizador for aplicar o herbicida em uma área, as condições climáticas têm de estar adequadas. Segundo Justiniano, a umidade relativa do ar deve ser superior a 55%, com vento entre 3 e 10 km/h, e temperatura, inferior a 30 °C.
Altas temperaturas podem provocar rápida evaporação das gotas do produto. Também não é recomendável fazer a aplicação quando há risco de chuva, já que a lavoura pode ser lavada, e o produto, perdido.
Já o vento intenso pode provocar deriva, com perda de eficiência de aplicação por meio do deslocamento do produto para um local que não é alvo da operação, além do risco de contaminação de outras áreas ou lavouras vizinhas.
Saiba mais: Previsão climática e Radar Meteorológico do FieldView™
Mapa de Monitoramento da Climate FieldView™️ indica área infestada por buva em soja
Saiba por que a agricultura digital é uma aliada da pulverização
Tanto para a aplicação de herbicidas para soja, como também de outros fitossanitários, a tecnologia deu um salto ainda maior com a incorporação das funcionalidades da agricultura digital. Por exemplo, se o agricultor tem dificuldade de calcular por quanto tempo o equipamento se deslocou, ficou parado ou fazendo manobras, basta recorrer à tecnologia.
Os pulverizadores avançaram muito ao longo dos últimos anos. “Ganharam em capacidade operacional, aplicação de sensores de velocidade e piloto automático, além do surgimento dos equipamentos autopropelidos”, menciona Justiniano.
Além disso, com o advento da agricultura de precisão, microprocessadores e aparelhos de GPS passaram a ser acoplados aos pulverizadores. “O uso dessa tecnologia trouxe para os agricultores maior segurança, já que o próprio equipamento traça automaticamente a rota ideal para o talhão, evitando remontes e áreas desprotegidas”, explica Paula Torresan, gerente de transferência de conhecimento da Bayer.
“Antigamente a operação ficava muito à mercê do operador, mas agora, com as ferramentas digitais, temos ganho significativo com a qualidade do trabalho e a agilidade e assertividade da tomada de decisão”, destaca Justiniano.
A agricultura moderna otimiza as atividades de pulverização no campo por meio de conectividade, sensoriamento remoto, entre outras ferramentas relativas à tecnologia da informação, permitindo operações com maior eficiência e disponibilizando dados com rapidez e assertividade. O melhor dos mundos para a tomada de decisão pelo gestor agrícola.
O que está revolucionando a pulverização no campo é a utilização de plataformas de agricultura digital em todas as operações das fazendas, a exemplo da Climate FieldView™, da Bayer. Uma tecnologia que apresenta recursos que apoiam o produtor rural a tomar decisões ainda mais assertivas no campo.
Os adventos da digitalização do agro vieram para somar ao que já era realizado com primor, tanto pelos iniciantes da agricultura 4.0, que podem trabalhar com o uso de imagens de satélite, quanto para os que já têm familiaridade maior em realizar mapeamentos de suas operações com hardwares. Segundo Paula Torresan, essas ferramentas permitem que as informações, já disponíveis nos monitores das máquinas, cheguem mais rapidamente às mãos dos produtores, para que análises sobre os manejos realizados possam ser feitas de forma mais embasada.
Pelo envio das imagens do Diagnóstico FieldView™, funcionalidade disponível no Plano de Entrada da Climate FieldView™, caso visualize uma variabilidade de cor em seus mapas, o produtor pode, após interpretação aliada ao histórico de problemas da área, identificar a localização exata do talhão – ou parte dele – que deve receber a aplicação do defensivo.
Uma ferramenta muito bem-vinda para o controle de daninhas resistentes ao Glifosato, por exemplo, onde, segundo Patrícia, os herbicidas para controle são muito caros. “De posse dos mapas e com a localização precisa, consigo reduzir a área de pulverização porque, em vez de aplicar na área total, vou pulverizar apenas nas manchas indicadas.”
A engenheira agrônoma explica que, com base nas informações da imagem recebida, na sede da fazenda, já são definidos os produtos a serem usados, a dose, a vazão, a velocidade, o local a ser aplicado, bastando o operador do pulverizador executar o que foi alinhado. “O FieldView™ simplesmente permite – ao produtor e ao operador – acompanhar se todas as especificações, previamente definidas, estão sendo seguidas.”
Patrícia, que já possui a experiência digital completa com FieldView™, acompanha todos os detalhes da operação, em tempo real, uma vez que seu maquinário realiza todo o mapeamento da operação de pulverização utilizando o FieldView™ Drive. “Se algo está com problema na pulverização, como o sensor de um bico, por exemplo, basta fazer a correção no momento que o problema acontece. Uma tecnologia que não está ali para fiscalizar quem está no comando da operação, mas é uma aliada da produtividade.”
E Patrícia comemora essa evolução. Por mais que a tecnologia presente nos pulverizadores autopropelidos permita a geração de mapas, esse processo era muito trabalhoso: “era necessário salvar todos os dados em um pen drive, levar para a concessionária, fazer a leitura em um software específico, esperar, às vezes, dias pelo processamento dessa informação”. Somente depois desse calvário, era possível obter um mapa em PDF com a vazão média do talhão.
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