Para ajudar a gerir dados no canavial, o celular tornou-se ferramenta do dia a dia
O Brasil é o maior produtor mundial de cana-de-açúcar. Na safra 2020/21, que chega ao fim no próximo mês de março, a produção será de pouco mais de 600 milhões de toneladas, segundo a Unica (União da Indústria de Cana-de-açúcar).
É uma das atividades agrícolas mais significativas do país, ocupando aproximadamente 8,6 milhões de hectares. Embora seja plantada em quase todos os estados brasileiros, o maior produtor é São Paulo, responsável por 51,5% da produção nacional.
Para otimizar a gestão da área cultivada e ganhar competitividade, os players do setor canavieiro sempre investiram em inovações. No Brasil, inclusive, estão entre os pioneiros na adoção da agricultura digital.
Os produtores canavieiros cultivam no campo matéria-prima que é processada em mais de 400 unidades industriais (usinas sucroenergéticas).
Formam uma cadeia produtiva estratégica para o país, uma vez que produzem açúcar, etanol e bioeletricidade, além de outros subprodutos.
Esse segmento se caracteriza pela intensa incorporação de tecnologias, tanto na área industrial, como na agrícola.
Existem iniciativas de estímulo das tecnologias digitais no setor, fomentadas por empresas sucroenergéticas e por entidades representativas de produtores de cana.
Exemplo é a cooperação técnica entre a Embrapa, a Cooperativa dos Plantadores de Cana do Estado de São Paulo (Coplacana), a Safe Trace e a Usina Granelli.
O foco é gerar ativos e soluções tecnológicas baseados em inteligência artificial, rastreabilidade e sensoriamento remoto. Os trabalhos em campo, liderados pela Embrapa Informática Agropecuária (SP), tiveram início em 2020.
O blockchain é uma forma segura e distribuída para fornecer informações na cadeia produtiva agrícola
"Há uma demanda recorrente na agricultura pela rastreabilidade dos produtos e processos", afirmou Stanley Oliveira, chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Informática Agropecuária.
"Sistemas baseados em blockchain proporcionam uma forma segura e distribuída para fornecer informações na cadeia produtiva agrícola, ou de quaisquer outros processos agroindustriais, permitindo rastrear informações como a origem do produto e de insumos, o uso de agrotóxicos na lavoura etc", explicou.
Drones podem ser usados para aplicação localizada de herbicidas
Empresa do setor sucroenergético que aposta pesado em tecnologias digitais é a Raízen. Tanto que a companhia criou, há 4 anos, o Pulse, um Hub de Inovação que viabilizou o desenvolvimento de diferentes tecnologias agrícolas.
Um dos frutos dessa iniciativa é o projeto de utilização de drones para a pulverização localizada de herbicidas nos canaviais. No teste de validação, a tecnologia resultou em economia operacional de 47% e de insumo de 82%.
OUÇA O NOSSO PODCAST: Hubs de Inovação - Quem são os integrantes do ecossistema das soluções inovadoras?
Ao longo dos últimos anos, a agricultura 4.0 conquistou importância no setor sucroenergético. É, cada vez mais, objeto de desejo dos gestores agrícolas.
Isso aconteceu principalmente depois que o agricultor canavieiro percebeu que investir na área poderia ajudar na gestão do seu canavial.
Vale lembrar que uma usina de cana roda 24 horas por dia e 7 dias na semana durante a safra, o que é um desafio permanente para o gestor da lavoura.
“A agricultura digital é ferramenta importante também porque, muitas vezes, a área agrícola ocupa grandes extensões e precisa estar conectada ao processo industrial da usina”, destaca Gustavo Semensato Abrão, engenheiro agrônomo e gerente de Ativação e Experiência do Cliente em Cana-de-açúcar da Bayer.
Segundo ele, esse setor evoluiu nessa área, inclusive em relação a outras culturas agrícolas.
“Mas essa busca por soluções digitais é antiga, tem mais de vinte anos, e continua a todo vapor”, comentou.
A agricultura digital contribui para a otimização de vários pontos ao longo do processo da cadeia produtiva da cana-de-açúcar
“Investir em tecnologia, para o empresário do setor, é uma alavanca de competitividade, num segmento marcado por crises e oscilações de mercado”, argumenta Abrão.
Por conta disso, é um mercado promissor para empresas que oferecem soluções digitais. “Não por acaso que startups de tecnologia têm desenvolvido tecnologias focadas nas demandas do produtor de cana-de-açúcar”, pontua.
Inúmeras ferramentas digitais auxiliam na gestão da área agrícola de usinas e fornecedores de cana, como o imageamento gerado por satélites e drones.
“O objetivo é sempre buscar suporte para a decisão, ajudando o gestor a enxergar o que antes não enxergava na lavoura”, diz Abrão.
Por conta da alta demanda por tecnologias digitais, a proposta de valor da plataforma Climate FieldViewTM encontrou grande adesão no setor, tanto por usinas, como por fornecedores de cana de diferentes portes.
“Passamos a trabalhar fortemente com o produtor de cana a partir do segundo semestre de 2019. E, apesar do pouco tempo, já somos um importante player de agricultura digital no segmento”, sublinha o gerente de Ativação da Bayer.
“Desde então, nossa presença no setor não para de crescer. Já estamos presentes em parte considerável das regiões canavieiras do país”, completa.
CONFIRA: Agricultura de precisão, agricultura 4.0 e agricultura digital: é a mesma coisa?
Uma das áreas em que as ferramentas digitais mais têm ajudado o produtor canavieiro é no controle de plantas daninhas.
O maior investimento em defensivos no setor é em herbicidas, visando impedir a matocompetição com a lavoura.
Com imagens geradas por satélite ou drones, o produtor pode analisar os talhões infestados por daninhas, ajudando a identificar se o problema está em área total ou em apenas em reboleiras.
Assim, consegue aplicar defensivos apenas nos locais indicados nas imagens, o que proporciona economia de um dos insumos mais onerosos, na gestão do canavial.
Por conta do interesse de usinas e fornecedores de cana em usar imagens de satélite para gerir a propriedade, a plataforma FieldViewTM encontrou grande oportunidade no setor por meio do imageamento gerado pelo Diagnóstico FieldViewTM.
A funcionalidade chamou a atenção do setor sucroenergético pela qualidade das imagens oferecidas ao produtor.
“Com o Diagnóstico FieldViewTM, passou a ter imagens com uma solução mais automatizada e de fácil uso”, explica Abrão.
“Essa tecnologia possibilitou ao produtor gerenciar com maior assertividade a sua lavoura”, diz.
VEJA: Ferramentas digitais unem forças para potencializar o mapeamento da biomassa
Outro desafio de uma usina sucroenergético é a gestão das máquinas na lavoura, especialmente das operações de aplicação de defensivos.
Tanto que muitas unidades implantaram o Centro de Operações Agrícolas (COA), que acompanha detalhadamente as operações realizadas no campo.
O acompanhamento feito pelo Centro de Operações Agrícolas permite fazer ajustes na operação de colheita em tempo real
Um recurso do FieldViewTM pode potencializar o monitoramento dos equipamentos feito pelo COA ou oferecer suporte ao produtor que faz diretamente a gestão de suas máquinas: o FieldViewTM Drive.
Trata-se de um dispositivo que se encaixa na porta CAN do equipamento, coletando tanto dados de campo, quanto da máquina. Ele conecta o equipamento com o iPad® que fica dentro da cabine, gerando mapas e relatórios em tempo real.
Em cana-de-açúcar, o Drive tem compatibilidade com todas as aplicações feitas por pulverizador.
“Se a máquina estiver conectada, conseguimos acompanhar, em tempo real, o local onde a aplicação está sendo feita, a quantidade pulverizada de calda, se houve falhas”, salienta Abrão.
O produtor ou o time que está no COA recebem informações importantes para a gestão da lavoura. “Se algum problema for detectado, medidas podem ser tomadas imediatamente.”
Mapeamento da taxa de aplicação (em l/ha) de produto durante pulverização, utilizando o FieldViewTM Drive
Pela imagem de satélite é possível identificar problemas com queimadas no canavial, que podem ter sido causadas por incêndio ou por geada.
Ao visualizar o problema, o gestor utiliza a funcionalidade de Sub-Talhão, de FieldViewTM , que permite dimensionar a área que foi atingida. Com essa função, é possível criar uma região dentro do talhão, que pode ser um polígono, um quadrado ou uma forma livre.
Isso ajuda o gestor a tomar medidas operacionais. Uma delas pode ser o deslocamento, para o local, de uma equipe de colheita para cortar a cana que foi queimada a tempo de ainda ser processada na indústria.
No monitoramento do canavial, outro recurso de FieldViewTM também tem sido bastante utilizado: os marcadores georreferenciados (PINs).
Outra operação de considerável investimento do produtor de cana é o plantio. Por isso, drones ou Vants sobrevoam a área, depois que o canavial brota, para tirar fotos em alta definição.
O objetivo? Verificar os pontos da lavoura em que há falha de plantio.
“Um sistema de computador identifica onde a cana não brotou e dimensiona a área total com falhas”, relata Abrão. Informações que serão usadas pelo produtor para tomar a decisão de replantio.
Se a área com falhas no canavial for inferior a 15%, não compensa deslocar pessoal e máquinas para replantar o talhão.
Imagens feitas por drones ajudam a identificar falhas na lavoura
Fotos da lavoura com drones podem ser feitas por um parceiro da Climate FieldViewTM, a Sensix. Depois do registro, essas imagens podem ser inseridas dentro da plataforma.
Segundo Abrão, esse é exatamente um dos diferenciais de FieldViewTM: o seu modelo de plataforma.
“Esse é um dos pontos que os empresários do setor enxergam valor na Climate, uma vez que possibilita trazer para dentro da ferramenta informações de diferentes parceiros e serviços digitais”, enfatiza Abrão.
“Assim, facilita o acesso às informações e a tomada de decisão”, acrescenta.
As funcionalidades da plataforma FieldViewTM são consagradas em diferentes segmentos agrícolas, como soja e milho, oferecendo soluções digitais completas ao produtor.
Mas como a cana-de-açúcar conquista espaço no portfólio de clientes da empresa, novas funcionalidades têm sido desenvolvidas de acordo com as especificidades e demandas da cultura.
A plataforma vai ampliar sua proposta de valor no setor, ganhando, por exemplo, sub-funcionalidades no Diagnóstico FieldViewTM e inovações em mapeamento de operações.
“E conforme a usabilidade de FieldViewTM em cana-de-açúcar avança, vamos, cada vez mais, oferecer ferramentas digitais que possam ajudar o empresário do setor a otimizar a gestão do seu negócio”, conclui Abrão.